terça-feira, 21 de agosto de 2007

Timemania - regulamentação da falcatrua?

Folha de São Paulo, domingo, 19 de agosto de 2007

Elio Gaspari

Os ProCartolas é a loteria da decadência

NOSSO GUIA CRIOU a décima loteria federal. É a ProCartolas, atende pelo nome de Timemania e é um exemplo de iniqüidade e decadência. Destina-se a tomar dinheiro do andar de baixo para cobrir delinqüências fiscais da cartolagem dos clubes de futebol. Eles devem à Viúva algo como R$ 1,9 bilhão. Campeão brasileiro, o calote do Flamengo está em R$ 150 milhões.
É iniqüidade porque vai buscar no andar de baixo o dinheiro que desapareceu no de cima. De cada dez apostadores das loterias federais, oito têm renda inferior a três salários mínimos. Neste ano a Caixa Econômica poderá arrecadar R$ 6 bilhões com as loterias, e o governo fica com mais da metade desse ervanário.
A voracidade do Estado em cima dos sonhos da patuléia vem desde o século 3 antes de Cristo, quando a dinastia Han usou o jogo para financiar o final da construção da Grande Muralha. O ProCartolas é um indicador de decadência porque enquanto o imperador dos chins fez a muralha para proteger todo o seu povo, Nosso Guia cevará senhores feudais dos clubes de futebol que não pagaram impostos ou contribuições. Eles receberão 20% do valor arrecadado com as apostas. É a primeira loteria que nasce para beneficiar roleta viciada.
Percebe-se o alcance de decadência política quando se vê que a dinastia Lula já criou uma jogatina (Lotofácil) dizendo que o dinheiro iria para o Fome Zero. Patranha. Foi para as burras do Planalto. Pior: em 2004 anunciou-se outra forma de tavolagem, um sorteio especial da Megasena no fim do ano, com o propósito de ajudar o financiamento do ensino superior. A idéia maturou na gaveta e, na sua nova roupagem, financiará sonegadores.

Indicação do blog Omni Corpus do Tarcisio Mauro Vago

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Brasil se prepara para reforma ortográfica

São Paulo, segunda-feira, 20 de agosto de 2007 - FOLHA DE S. PAULO - COTIDIANO


Brasil se prepara para reforma ortográfica
Novas regras da língua portuguesa devem começar a ser implementadas em 2008; mudanças incluem fim do trema

Ministério da Educação já prepara a próxima licitação dos livros didáticos, que deve ocorrer em dezembro, pedindo a nova ortografia

DANIELA TÓFOLIDA
REPORTAGEM LOCAL

O fim do trema está decretado desde dezembro do ano passado. Os dois pontos que ficam em cima da letra u sobrevivem no corredor da morte à espera de seus algozes. Enquanto isso, continuam fazendo dos desatentos suas vítimas, que se esquecem de colocá-los em palavras como freqüente e lingüiça e, assim, perdem pontos em provas e concursos.O Brasil começa a se preparar para a mudança ortográfica que, além do trema, acaba com os acentos de vôo, lêem, heróico e muitos outros. A nova ortografia também altera as regras do hífen e incorpora ao alfabeto as letras k, w e y (veja quadro). As alterações foram discutidas entre os oito países que usam a língua portuguesa -uma população estimada hoje em 230 milhões- e têm como objetivo aproximar essas culturas.Não há um dia marcado para que as mudanças ocorram -especialistas estimam que seja necessário um período de dois anos para a sociedade se acostumar. Mas a previsão é que a modificação comece em 2008.O Ministério da Educação prepara a próxima licitação dos livros didáticos, que deve ocorrer em dezembro, pedindo a nova ortografia. "Esse edital, para os livros que serão usados em 2009, deve ser fechado com as novas regras", afirma o assessor especial do MEC, Carlos Alberto Xavier.É pela sala de aula que a mudança deve mesmo começar, afirma o embaixador Lauro Moreira, representante brasileiro na CPLP (Comissão de Países de Língua Portuguesa). "Não tenho dúvida de que, quando a nova ortografia chegar às escolas, toda a sociedade se adequará. Levará um tempo para que as pessoas se acostumem com a nova grafia, como ocorreu com a reforma ortográfica de 1971, mas ela entrará em vigor aos poucos."Tecnicamente, diz Moreira, a nova ortografia já poderia estar em vigor desde o início do ano. Isso porque a CPLP definiu que, quando três países ratificassem o acordo, ele já poderia ser vigorar. O Brasil ratificou em 2004. Cabo Verde, em fevereiro de 2006, e São Tomé e Príncipe, em dezembro.António Ilharco, assessor da CPLP, lembra que é preciso um processo de convergência para que a grafia atual se unifique com a nova. "Não se pode esperar resultados imediatos."A nova ortografia deveria começar, também, nos outros cinco países que falam português (Portugal, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Timor Leste). Mas eles ainda não ratificaram o acordo."O problema é Portugal, que está hesitante. Do jeito que está, o Brasil fica um pouco sozinho nessa história. A ortografia se torna mais simples, mas não cumpre o objetivo inicial de padronizar a língua", diz Moreira."Hoje, é preciso redigir dois documentos nas entidades internacionais: com a grafia de Portugal e do Brasil. Não faz sentido", afirma o presidente da Academia Brasileira de Letras, Marcos Vilaça.Para ele, Portugal não tem motivos para a resistência. "Fala-se de uma pressão das editoras, que não querem mudar seus arquivos, e de um conservadorismo lingüístico. Isso não é desculpa", afirma.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Mulheres passam a ter "tripla jornada" neste século, diz IBGE

Dinheiro
17/08/2007 - 10h20

Mulheres passam a ter "tripla jornada" neste século, diz IBGE


Colaboração para a Folha Online, no Rio

O crescimento da participação das mulheres no mercado de trabalho reproduz a "dupla jornada", quando elas dividem a vida profissional com o cuidado de afazeres domésticos. Mas a carga não pára por aí.

Segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), divulgados nesta sexta-feira, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), de 2001 e 2005, não somente as crianças dependem das mulheres (no caso mães), mas também grande parte dos idosos, dando origem, no século 21, a chamada "tripla jornada".

De acordo com o levantamento, o cuidado com os idosos se constitui em uma atividade feminina e, à medida que a idade avança, a atenção com eles também aumenta. O IBGE diz que a "tripla jornada" é gerada por mudanças significativas na distribuição do tempo das mulheres com o cuidado pessoal e o lazer, além da absorção das horas com o mercado de trabalho e atenção com a família.

O levantamento diz que a crescente participação feminina no mercado de trabalho não isentou as mulheres nem reduziu a jornada delas com os afazeres domésticos. A carga semanal delas supera a dos homens em quase cinco horas.

O estudo também afirma que há desvantagem em relação às mulheres não apenas com as horas de trabalho, mas também com a dificuldade de conciliar suas atividades profissionais e familiares. A baixa oferta de aparato social como creches, dificulta mais a participação delas em ambientes profissionais.

fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u320814.shtml

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

NBA: mais uma notícia histórica no mundo da malandragem

15/08/2007 - 13h34
Árbitro confessa envolvimento em apostas em jogos da NBA
Da RedaçãoEm São Paulo
Em um dos maiores escândalos da história da NBA, o ex-árbitro Tim Donaghy confessou nesta quarta-feira, em tribunal, ter culpa em duas acusações sobre envolvimento em apostas, colocando em xeque a integridade dos jogos em que trabalhou.

O treinador dos Cavaliers, Mike Brown, protesta contra Donaghy em jogo de abrilDonaghy, que se desligou da liga no dia 9 de julho depois de uma carreira de 13 anos, pode receber pena de até 25 anos de detenção por conspiração em fraude generalizada e repasse e venda de informações de apostas interestaduais, segundo disse a juíza Carol Bagley Amon. Embora os promotores públicos também tenham declarado que o norte-americano apostou em jogos em que atuou, essa acusação ele não admitiu. Em pé em frente à juíza com as mãos algemadas, o ex-árbitro afirmou que tem consultas freqüentes com um psiquiatra devido ao seu vício em apostas e que está tomando remédios antidepressivos e contra ansiedade. Ele terá de pagar US$ 500 mil de multa e pelo menos US$ 30 mil em restituição. Donaghy contribuiu em uma rede de jogo com recomendações sobre quais times deveriam ser escolhidos pelos apostadores - informou os trios de arbitragens para cada duelo, qual era a relação entre os árbitros e jogadores e a condição médica de alguns atletas. Se ele estivesse correto ao final das partidas, esses apostadores lhe pagavam determinada quantia. Dois cúmplices desta rede estão sob custódia policial e podem enfrentar penas de até 20 anos. Donaghy omitiu o esquema da NBA e de outros árbitros para evitar a prisão. O FBI contatou a NBA no dia 20 de junho para informar sobre o acompanhamento do caso de um árbitro que estaria apostando em jogos. O comissário David Stern afirmou que teria o demitido antes, mas adiou a decisão para não interferir nas investigações. Em coletiva, Stern atacou Donaghy e afirmou que ele se tratava de um "nocivo e isolado criminoso". O árbitro estava entre a elite da liga no ofício. Segundo Stern, não havia suspeita sobre a freqüência de faltas marcadas em partidas que ele trabalhou. "Esta foi o pior e mais sério caso que presenciei como torcedor, advogado ou comissário da NBA", afirmou. O último compromisso de Donaghy na NBA aconteceu durante a série entre Phoenix Suns e San Antonio Spurs, nas semifinais da Conferência Oeste deste ano.

fonte: http://esporte.uol.com.br/basquete/ultimas/2007/08/15/ult4356u743.jhtm

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Estrangeiros... tsc... tsc!

Para que pudéssemos andar de trem livremente na Europa, compramos o Eurailpass. É um bilhete onde você coloca a data e pode andar de trem naquele dia pra onde quiser. Tínhamos comprado o de 15 dias. O aproveitamento tinha que ser ao máximo, claro.

Chegando à Alemanha, tínhamos de ir de Hamburgo para Munique. O problema é que tinha apenas um trem, non-stop, que satisfazia nosso horário. O próximo sairia muito tarde. Outro problema era que o trem não aceitava o maldito bilhete.

Mas como a brazucada se acha mais esperta que o mundo todo, surgiu o seguinte raciocínio, compartilhado por quase 30 cabeças tupiniquins: "Vamos entrar no trem assim mesmo! No foda-se! Como ele é non-stop, não poderão colocar a gente pra fora." E lá foi a brasileirada sem noção trem adentro.

Com o trem já em movimento, chega uma mulher de quase 2 metros de altura pra conferir os bilhetes. O primeiro a ser interpelado fui eu. Logo eu fui o cobaia. A mulher pegou o bilhete, virou-se pra mim e disse aos berros:

"Spraichen Deutch ??"
Eu disse: "No"
"Speak English ?"
Respondi: "Yes"
Ela concluiu: "Get out, right now !!!"

Eu ainda pensei: Caralho, e agora? Será que eu vou ter que me jogar pela janela? Pois a maldita freulein pegou um intercomunicador, resmungou alguma coisa e, acreditem, o trem non-stop parou numa estaçãozinha no cú da Alemanha.

Já ciente da minha expulsão, avisamos os demais brazucas para saírem também pois o bicho ia pegar e ia dar merda.

Cenário montado: Um puta trenzão non-stop parado, uns 500 alemães na janela pra saber o motivo e uns trinta brazucas sendo expulsos. Então uma alma verde-amarela teve a idéia brilhante:

"Aí, galera!! Não vamos levar este mico pra casa, não! Não vai rolar!" E desembarcamnos gritando em coro:

"AR-GEN-TINA! AR-GEN-TINA! AR-GEN-TINA!"

http://www.acidezmental.com/200707.html

Charges 1

Vou postar uma série de charges significativas e questionadoras. É a globalização da desgraça!











quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Folha de S. Paulo 29-07-2007

São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007


JUCA KFOURI

Um balanço realista do Pan


Passada a festa, que foi bela, é hora de investigar como se gastou tanto e que saldo ficou para o país


SEM NENHUM recorde mundial, o Pan-2007 acaba hoje. Desde 1987, aliás, em Indianápolis, que os Jogos Pan-Americanos não vêem cair uma marca significativa internacionalmente.
Nem por isso, no entanto, o progresso brasileiro no quadro de medalhas deve ser minimizado.
Apenas relativizado, para que não caiamos todos no ufanismo boçal e para que não haja frustração diante dos resultados nos Jogos Olímpicos de Pequim, no ano que vem.
O Pan, que começou com vaias ao presidente da República e terminará sem ele no Maracanã, teve seu ponto mais festivo, por ironia, com o futebol.
E com o futebol... feminino, o rejeitado, e delicioso, futebol feminino brasileiro.
Quando esta coluna estava sendo escrita, o Brasil tinha 40 medalhas de ouro e 125 no total.
Nunca este país colheu tantas, diria o presidente.
Pura verdade.
É assim, em regra, com os anfitriões, como Cuba, que fez 140 ouros em 1991 e superou os EUA.
O que, também, não obscurece que o progresso brasileiro tem sido lento e gradual de 1999, em Winnipeg, para cá.
Turbinado pela Lei Piva, e agora com o aditivo da Lei de Incentivo ao Esporte, tal progresso deve continuar, mesmo que isso não venha a significar, infelizmente, que a população brasileira passará a ter mais acesso à prática esportiva, seja como lazer, seja como educação, seja como saúde, aspecto talvez mais importante num país tão miseravelmente doente.
Porque, por falar em educação, o Brasil não passou de ano neste quesito, menos pelas vaias ao presidente, mais pelas covarde e vergonhosamente destinadas aos que competiam contra os patrícios na ginástica e no atletismo, verdadeiras manchas que certamente serão levadas em conta pelos observadores que, adiante, tratarão de avaliar a candidatura do Rio aos Jogos Olímpicos de 2016.
Nem por isso o Pan-2007 deixou de ser uma alegria, principalmente para quem pode vivê-lo de perto, experiência inesquecível como bem sabem os que testemunharam o Pan-63, em São Paulo.
Agora, no entanto, é que deve começar o outro lado do Pan.
Com a CPI na Câmara Municipal do Rio de Janeiro e, provavelmente, na Câmara Federal.
E com as imprescindíveis ações do Ministério Público Federal que tem de verificar, por exemplo, se faz sentido financiar as passagens de todas as delegações com dinheiro público, como foi feito. Algo que, registre-se, nem os EUA, que tinham a cidade de San Antonio como concorrente ao Pan-2007, toparam fazer.
Afinal, não basta investigar se o dinheiro foi gasto ou não, mas, sim, se foi bem gasto ou não. No caso, parece um acinte, ainda mais por envolver passagens de avião...
Porque também nunca jamais uma medalha custou tão caro neste país que não sabe, entre outras coisas, que destino terão os equipamentos que foram construídos para a festa continental.
O Pan está por acabar.
E foi bonita a festa, pá!
Há que começar o pan, pan, pan, pan..., pão, pão, queijo, queijo.

blogdojuca@uol.com.br

Folha de S. Paulo 29-07-2007

São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007


MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DA ILUSTRADA

A sordidez do Pan

Não nos mobilizamos para resolver alguns problemas, mas temos bilhões para queimar num evento de terceira

EU TAMBÉM me diverti com o Pan e achei muito bonitas as instalações olímpicas construídas para os Jogos. O encanto e as emoções do esporte são contagiantes. E certamente algum efeito positivo para a prática esportiva -e a auto-estima do Rio- o evento terá tido.
Nada disso, porém, consegue apagar de minha mente o aspecto sórdido do Pan, que não é mais do que um reflexo do lado sombrio de nossa sociedade ou, como prefeririam alguns, de nossas elites.
Começando pelo começo: está claro que a opinião pública foi enganada pelo Comitê Olímpico Brasileiro, pela Prefeitura do Rio e pelo governo federal com um orçamento mentiroso.
Poderia dizer que foi um orçamento "equivocado", mas obviamente não é isso: a distância entre os cerca de R$ 400 milhões da previsão inicial e os mais de R$ 3 bilhões efetivamente gastos é tão grande que não pode ser erro de estimativa. Reportagem de Sérgio Rangel publicada pela Folha mostrou que para cada R$ 1 estimado foram efetivamente gastos R$ 8.
Atenção: estamos falando de dinheiro público, não de investimentos privados. E estamos falando de dinheiro público num país e numa cidade cujas carências e urgências são gritantes. Está na cara que os projetos foram bombados não apenas para as "bicadas" de praxe (e fico imaginando quanta gente bicou em toda essa cadeia!), mas como fruto de uma estratégia: tentar fazer uma Olimpíada no Rio.
Ou seja, a grande aposta que os espertos estão fazendo para a cidade é transformá-la em palco olímpico, supondo que, com isso, investimentos em infra-estrutura, urbanização e combate à miséria acontecerão. Teremos uma nova Barcelona...
É uma aposta irresponsável, que transforma a população em refém de um plano que tem enormes chances de ser extremamente dispendioso e dar errado, mesmo se aprovado pelo Comitê Olímpico Internacional.
Em artigo no "Globo", Ali Kamel comparava os custos das obras que se anunciam para a Rocinha com os do Engenhão, elefante branco modernoso cercado de favelados. No primeiro caso, o poder público pretende gastar R$ 80 milhões. No segundo, torrou R$ 380 milhões!
A sordidez é essa, amigos do esporte. Não conseguimos nos mobilizar para resolver o problema vergonhoso das favelas, mas rapidamente arrumamos bilhões para queimar num evento de terceira linha que em breve estará esquecido e cujos desdobramentos são totalmente incertos. É isso aí: "Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor".

Obesidade



São Paulo, domingo, 29 de julho de 2007


Obesidade contagiosa

UM NOVO estudo, publicado no periódico americano "New England Journal of Medicine" e noticiado com destaque na imprensa mundial, sugere que a obesidade é uma doença transmissível.
Durante 32 anos, entre 1971 e 2003, 12.067 pessoas foram acompanhadas de perto por médicos, que também possuíam um mapa detalhado das relações entre os pacientes (quem era amigo de quem, além de vínculos familiares, de vizinhança etc.).
Não foi sem surpresa que os investigadores descobriram que a chance de uma pessoa engordar sobe bastante (57%) quando um amigo se torna obeso. É um risco superior ao de quando quem engorda é familiar ou vizinho.
Explicações para o fenômeno ainda são especulativas. Imagina-se que, quando um amigo engorda, mudamos a imagem mental que fazemos da obesidade.
Se confirmados, os resultados dessa pesquisa acrescentarão a transmissibilidade a uma moléstia cada vez mais preocupante em termos epidemiológicos.
Para quem já foi obeso, manter-se magro exige controle diuturno. Em alguma fase da vida, a vigilância cai e o peso extra reaparece. Em geral, a recorrência vem em menos de um ano.
A melhor explicação para a epidemia é de ordem evolutiva. Moldado pelas adversidades, o organismo desenvolveu e conservou genes capazes de armazenar energia na forma de gordura. As condições de vida mudaram, mas o organismo não. Ele está programado para armazenar o máximo possível -num contexto de aumento na oferta de calorias e num ritmo de vida em que as gastamos cada vez menos.
Como é difícil mudar ambiente e genética, o caminho da saúde pública para lidar com a obesidade continua sendo a ação educativa, que estimule a atividade física e a alimentação saudável.

Historietas

São Paulo, quinta-feira, 02 de agosto de 2007


CONTARDO CALLIGARIS

As nossas histórias e "A História"

"A História" é abstração: as nossas pequenas histórias concretas são seu verdadeiro tecido

ASSISTI A "Bobby", de Emilio Estevez, que acaba de estrear. O filme conta o dia da morte de Robert F. Kennedy a partir das pequenas histórias de quem, por uma razão ou outra, estava, naquelas horas, no Hotel Ambassador de Los Angeles (que foi o lugar do atentado). É uma ocasião imperdível e tocante para pensar um pouco sobre a relação entre "A História" e nossas pequenas histórias.
Por exemplo, o assassinato de John F. Kennedy, em novembro de 1963, em Dallas, Texas, foi numa sexta-feira, por volta do meio-dia.
Sei disso porque lembro que eu estava em Milão, na casa dos meus pais, e ia sair com meu melhor amigo; a notícia chegou na hora do jantar.
Logo, o grupinho político ao qual eu e meu amigo pertencíamos (o Círculo Piero Gobetti) convocou uma reunião de urgência (no retrospecto, a urgência parece engraçada).
Redigimos uma declaração "oficial", de cujo teor eu me esqueci totalmente, mas que foi impressa em cartaz no dia seguinte. Passei a noite de sábado com meu amigo, colando cartazes pelas ruas, no frio. Como o cartaz não era autorizado, fomos presos, na madrugada. É a melhor lembrança que tenho de meu amigo do peito daqueles dias.
Eu também me lembro do exato momento em que aprendi que Martin Luther King tinha sido assassinado, em Memphis, Tennessee, no começo de abril de 1968: estava sendo apresentado a meus sogros, em Houston, Texas.
Do dia do assassinato de Robert Kennedy, em junho de 1968, não me lembro. Provavelmente não está ligado a nenhum pequeno evento de minha própria história.
Estava em Paris no dia da greve geral de 22 de maio de 1968. Mas saí da cidade, de carro e com dificuldade (era difícil encontrar gasolina), antes da manifestação favorável a De Gaulle, que foi em 30 de maio. Sei disso porque sei onde estava e com quem quando me disseram que a manifestação do dia 30 tinha acontecido, promovida (fato doloroso) por um dos meus ídolos literários, André Malraux.
Depois disso, nada até o fim de agosto de 1968: no dia em que os tanques soviéticos entraram em Praga, estava no barzinho do porto de Panarea, na Sicília, onde, naquele ano, eu passava minhas férias de verão (que eram também uma espécie de lua-de-mel).
Alguns grandes eventos da "História" me permitem datar minhas pequenas histórias. Reciprocamente, há datas de grandes eventos das quais me lembro porque estão ligadas a momentos cruciais de minha pequena história.
Tudo bem, eu uso meu teatro íntimo para me lembrar das datas dos grandes eventos e, reciprocamente, sirvo-me dos grandes eventos para me lembrar de algumas datas de minha vida. Mas qual é a diferença e qual a relação entre minhas histórias e "A História"?
Poderíamos dizer assim: os eventos da "História" são aqueles que interferem na vida de muitos, enquanto nossas histórias só concernem a nós e a um número restrito de próximos.
Agora, por mais que sonhemos, às vezes, com o progresso da razão, o fim da luta de classe ou a marcha providencial para o juízo final, "A História" não tem dinâmica própria.
Ela é só a resultante das infinitas pequenas histórias da gente. Sirhan Sirhan, o assassino de Robert Kennedy, disse, na época, que ele se sentia compelido a agir pela "História": Robert Kennedy tinha apoiado Israel na Guerra dos Seis Dias, em 1967, e o assassinato aconteceu no aniversário do começo da guerra. Por outro lado, Sirhan era um sujeito desequilibrado e influenciável. Sem os percalços de sua pequena história pessoal, ele nunca teria cometido o ato que o propulsou para o palco da "História".
Além disso, "A História" não tem interesse intrínseco. Ela só vale porque, de uma maneira ou de outra, ela mexe com nossas pequenas histórias. "A História" pode dizer, por exemplo, que, se Robert Kennedy não tivesse sido assassinado, Nixon não teria sido eleito e a guerra do Vietnã teria terminado mais cedo.
É provável. Mas dizer que "a guerra do Vietnã teria terminado mais cedo" é uma abstração. O que importa é que Joe, Jack, Ho, Nguyen etc. teriam ficado em casa, teriam amado, criado seus filhos e por aí vai -é isso o que importa.
Quando contamos "A História", esquecemos que ela não é nada se não uma abstração de histórias concretas. E, quando pensamos nas pequenas histórias, inclusive nas nossas, esquecemos que elas são o verdadeiro e único tecido da "História".


ccalligari@uol.com.br

Folha de S. Paulo 02-08-2007

São Paulo, quinta-feira, 02 de agosto de 2007


BALANÇA, MAS NÃO CAI

Hitler usurpou fama histórica de Olímpia

Uma das sete maravilhas antigas, estátua do deus ficava na cidade "redescoberta" pelo ditador alemão

DO ENVIADO ESPECIAL

Não fossem o museu e o sítio arqueológico, Olímpia não seria grande coisa. Se muito uma carismática cidadezinha do sul da França, pelo estilo da sua desacelerada rua principal.
Mas há o museu e o sítio arqueológico. Além de livros que, à venda na entrada desses lugares, fazem com que muitos turistas descubram o que se passou por ali e babem nas ruínas.
O local não abrigou apenas a primeira Olimpíada, em 776 a.C. Foram mais de cem olimpíadas, até 393 d.C., quando o imperador bizantino Teodósio 1º proibiu festas idólatras, e os jogos foram abolidos. Em 426, dando seqüência à antipatia familiar com Olímpia, Teodósio 2º queimou o templo de Zeus.
Nesse mesmo século, terremotos destruíram ainda mais o santuário, que entrou em um limbo histórico. No século 18, houve escavações amadoras sem resultado. No 19, profissionais fizeram investigações sistemáticas e tropeçaram em algumas coisas, mas o passado só voltou mesmo à tona em meados do século seguinte -com Hitler, porque o ditador queria algo grandiloqüente para as Olimpíadas de Berlim de 1936 e, por isso, escavou e "reativou" Olímpia, para que a tocha saísse de lá até a capital alemã.
As escavações seguem até hoje, e anexo ao sítio arqueológico há um museu com as peças ali encontradas, de quase dois milênios antes de Cristo até o período da dominação romana.
Uma seção abriga apenas os artigos que, para contrariedade de Teodósio 2º na tumba, foram resgatados do templo de Zeus -como a estátua de Nike, a deusa da vitória.

Antes do Cristo
Mais de dois milênios antes de as novas sete maravilhas serem eleitas por internet e celular, entre 150 a.C. e 120 a.C. filósofos gregos fizeram a lista antiga, que inclui a estátua de Zeus. Toda de ouro, marfim e outros materiais preciosos, ficava, é claro, no templo de Zeus. Pedaços de colunas do templo permanecem lá.
A estátua foi construída pelo escultor Fídias (nascido em Atenas em 490 a.C. e morto em Olímpia em 430 a.C.), com a ajuda do pintor Panainos e do também escultor Kolotes.
Fídias tinha um currículo respeitável. Se fosse resumi-lo hoje, em uma página de computador, bastaria escrever "esculturas no Partenon, na Acrópole, e estátua de Zeus".
A estátua foi posta no templo após 438 a.C. Zeus estava sentado em um trono, e a obra, somado o pedestal, media 12,4 metros -tão grande, para o templo de 20 metros de altura, que Estrabón, historiador grego, disse que se o deus resolvesse se levantar passaria do teto.
O trono era feito de cobre, ouro, ébano, marfim e pedras preciosas e decorado com representações pintadas e em baixo-relevo de temas da mitologia. As partes descobertas de Zeus (pés, barriga e cabeça) eram de marfim, e cabelos, barba, sandálias e túnica, de ouro.
"Diz-se que a perfeição da estátua era de tal envergadura que, quando o artista pediu a aprovação do deus, este a mostrou lançando um relâmpago sobre o templo sem destruir nada", narra o livro "Olímpia e Jogos Olímpicos", à venda em Olímpia por 15 (R$ 40) -em inglês, espanhol ou grego.
A estátua ficou no templo até 395 d.C. Saiu de lá, portanto, antes que o local fosse destruído. Mas, em Istambul, queimou em um incêndio em 475. Teodósio 2º, morto 25 anos antes, não teve o prazer de comemorar a ocasião. (TM)