quinta-feira, 26 de junho de 2008

Breve história da humanidade - desenhada...!





O homem flexível

Robert Kurz critica o sociólogo alemão Ulrich Beck e a flexibilização do trabalho

Há muito não é mais segredo que o mundo altamente industrializado ou mesmo "pós-industrial" do Ocidente assume cada vez mais traços do chamado Terceiro Mundo. Não foram os países da periferia capitalista que se acercaram do nível social das democracias ocidentais do "Welfare State", mas justamente o contrário, a depravação social nos antigos centros capitalistas dissemina-se como um vírus. Porém não se trata somente do progressivo desmantelamento dos sistemas de previdência social, não se trata somente do aumento do desemprego estrutural de massas.
Além disso, entre o emprego formal e o desemprego também cresce um setor difuso, que já é velho conhecido dos países do Terceiro Mundo e que, nas sociedades marcadas pelo "apartheid" social de uma minoria que toma parte no mercado globalizado, ganhou o rótulo de "economia informal" dos excluídos, os quais vegetam abaixo do nível de miséria. Os camelôs nas calçadas, os garotos que limpam pára-brisas nos cruzamentos, a prostituição infantil ou o sistema semilegal de reaproveitamento de sucata e lixo compõem essa categoria.
Em menores proporções, esses fenômenos também passaram a integrar o dia-a-dia do mundo ocidental, sendo mais evidentes nos países anglo-saxões, com o seu radical liberalismo econômico de matiz clássico. Mas ainda se acham em gestação novas formas híbridas entre o emprego formal e as relações de trabalho precárias.
Como há 20 anos o nível do salário real diminui de forma contínua (com particular virulência nos Estados Unidos), a renda do salário oficial não basta mais para financiar um padrão de vida "normal" com moradia, carro e seguro de saúde. É preciso, assim, buscar relações de emprego suplementares. Dois ou três empregos por pessoa são quase a regra. O operário de uma fábrica, após o expediente, dá um pulo em casa para um rápido jantar e em seguida entra de serviço como vigilante noturno em outra empresa; de sono restam só poucas horas. No fim-de-semana ele trabalha ainda de garçom num restaurante sem salário fixo, contando apenas com as gorjetas. Com esforço sempre maior e à custa da ruína de sua saúde, mantém-se a fachada da normalidade.
Outro fato que multiplica essa nova espécie de biografia do rendimento incerto é serem as pessoas obrigadas, em número cada vez maior, a trabalhar abaixo de sua qualificação. Para as atividades que efetivamente exercem, elas são "superqualificadas", sua proficiência não é mais absorvida pelo mercado. Desde o início dos anos 80, com o advento da revolução microeletrônica e com a crescente crise das finanças estatais, uma formação acadêmica não é mais garantia de um posto de trabalho correspondente. Muitos cargos qualificados no âmbito estatal foram extintos, por falta de financiamento. No mercado livre, por outro lado, as qualificações caducam com uma rapidez vertiginosa e, como "fogo de palha" que são, logo perdem seu valor. O ciclo acelerado das conjunturas, das inovações, dos produtos e da moda abarca não somente a esfera técnica, mas também a cultura, as ciências humanas e a prestação de serviços.
Nesse processo social, uma parte crescente da intelectualidade acadêmica foi degradada. O "eterno estudante", o estudante de matrícula trancada que tira seu sustento fazendo bicos em atividades menores, a estudante de literatura inglesa aos 30 anos desempregada, com seu inútil diploma de doutora, esses casos não são mais raridade. Em todo o mundo ocidental, o taxista graduado em filosofia tornou-se o emblema de uma carreira social negativa. Formou-se um novo círculo, bem mais abrangente do que a antiga boêmia. Historiadores diplomados trabalham em fábricas de pão de mel, professoras desempregadas tentam a vida como "babysitter", juristas supérfluos vendem produtos culturais indianos.
Muitas pessoas com passado intelectual arrastam-se vida afora, com seus 30, 40 anos de idade, em projetos intelectuais difusos, semi-estudantis, e flutuam em suas atividades entre o emprego de entregador de mercadorias, o jornalismo de ocasião e experiências artísticas improdutivas. A questão profissional gera um progressivo embaraço. Já em 1985, dois jovens autores alemães, Georg Heizen e Uwe Koch, publicaram um romance "cult", cujo herói assim descreve esse novo sentimento de precariedade: "Não sou pai, nem marido, nem membro do Automóvel Clube. Não sou pessoa de mando nem autoridade, não disponho de conta bancária. Sou versado em assuntos intelectuais, dos quais hoje se faz cada vez menos uso. Estou excluído da circulação das ofertas".
Se talvez dez ou 15 anos atrás essa forma de existência equívoca ainda soava algo exótica, hoje ela se transformou em fenômeno de massas. O sociólogo alemão Ulrich Beck apurou que "o sistema padronizado de emprego começa a esmorecer". As fronteiras entre emprego e desemprego tornam-se lábeis. As palavras de ordem do novo sistema de emprego, um sistema disperso e confuso, são "flexibilização" e "subemprego múltiplo". Há muito não se encontra mais apenas uma inteligência acadêmica, excluída e supérflua, nesses meios de emprego flexibilizado. Antigos carpinteiros, cozinheiras, desenhistas técnicos, cabeleireiros, costureiras ou enfermeiros também se transformaram em subempregados de função múltipla e sem emprego fixo.
Todos fazem algo diverso daquilo que estudaram. Qualificações, profissões, carreiras, currículos e status social precisos e inequívocos fazem parte do passado. Isso é mais do que a simples oscilação constante entre emprego remunerado e desemprego, como hoje é natural para vários milhões de pessoas nos Estados industrializados do Ocidente. Trata-se também da permanente alternância entre qualificações, atividades e funções já conhecidas, uma espécie de vaivém entre os ramos sociais do trabalho, que se modificam com rapidez cada dia maior sob a pressão dos mercados.
Ainda havia esperanças, nos anos 80, de que a nova tendência de flexibilização das relações de trabalho talvez pudesse ser dobrada para fins emancipatórios, permitindo que não se seguissem mais padrões esclerosados, que se descobrissem, apesar das pressões sociais, novas possibilidades e novos modos de vida. O indivíduo flexível deveria ser o protótipo daquele que não se submete mais incondicionalmente às injunções do trabalho e do mercado, daquele que, por conquistar um tempo livre para a ação independente e autônoma, é capaz de definir livremente seus objetivos. Falava-se de "pioneiros do tempo", que ganhariam a "soberania do tempo" para usá-lo em benefício próprio, criando formas de vida alternativas à polarização mecânica entre o "trabalho" imposto por outrem e o "lazer" orientado para o consumo.


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Muitas pessoas com passado intelectual arrastam-se vida afora em projetos intelectuais difusos e atividades como o jornalismo de ocasião e experiências artísticas improdutivas

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Tais idéias lembram um pouco os escritos de juventude de Karl Marx, que, numa passagem famosa, previu para o futuro comunista o fim da opressiva divisão do trabalho: "A divisão do trabalho nos oferece o exemplo de que, enquanto existir a cisão entre o interesse particular e o comum, a própria ação do homem torna-se para ele um poder alheio e adverso, que o subjuga. É que, tão logo o trabalho começa a ser dividido, cada um tem um determinado círculo exclusivo de atividades, do qual não pode sair, ao passo que, no comunismo, a sociedade regula a produção geral e justamente por isso permite-me fazer hoje isso, amanhã aquilo, de manhã caçar, à tarde pescar, à noite pastorear o gado, depois do jantar fazer crítica, com bem me aprouver, sem jamais ter de tornar-me caçador, pescador, pastor ou crítico".
A velha imagem romântica do jovem Marx, completando exatos 150 anos de existência, infelizmente não tem mais nada a ver com a nossa nova realidade flexibilizada. Afinal não vivemos mais numa sociedade com veleidades comunistas, que, para além do capitalismo burocrático de Estado, hoje em franco declínio, partiria em busca de novos horizontes de emancipação social.
Otimistas da flexibilização como Ulrich Beck ou o filósofo social francês André Gorz tomaram o bonde errado, pois quiseram desenvolver os potenciais de uma nova "soberania do tempo" individual em coexistência pacífica com o modo de produção capitalista. Depois de toda a crítica radical da ordem reinante ter sido abandonada, não existia mais nenhuma possibilidade de utilizar a tendência social imanente para fins emancipatórios. Em razão disso, a luta para dar à flexibilização contornos sociais já estava decidida antes mesmo de começar.
As idéias esperançosas de uma suposta determinação autônoma do fluxo temporal em nichos sociais referiam-se, em todo caso, apenas a certas formas de trabalho de jornada parcial, que além do mais, segundo a teoria de Gorz, deveriam ser patrocinadas socialmente pelo Estado, para afiançar uma segura "receita básica" na forma de moeda e possibilitar com isso as atividades paralelas, estas sim de livre escolha.
Essa teoria, bem intencionada mas banguela, sempre fez pouco da realidade das pessoas que, sob a pressão do crescente dumping social, são forçadas a trabalhar em dois ou três empregos quase 24 horas por dia. Como hoje, a exemplo de antes, ainda existe aquela "cisão entre o interesse particular e o comum" -leia-se: concorrência cega nos mercados anônimos, que teóricos como Beck e Gorz não põem mais em questão-, o potencial da produtividade incrementada também não pode mais ser utilizado em proveito da "soberania do tempo" dos indivíduos. Em vez disso, o capitalismo neoliberal desembestado impôs ditatorialmente a flexibilização, viabilizando de forma exclusiva sua filosofia econômica da redução de custos a todo preço.
Suprimem-se as jornadas de trabalho padronizadas, mas não no interesse dos trabalhadores. Amplia-se o "trabalho à disposição", conforme o volume das encomendas e em turnos variáveis. Exige-se também maior mobilidade espacial da força de trabalho, em prejuízo de seus próprios interesses vitais. Há tempos, centenas de milhões de pessoas são forçadas a migrar para outros países e continentes em busca de trabalho. Latinos saem à cata de emprego nos Estados Unidos, asiáticos, nos emirados do Golfo, europeus do sul e do leste, na Europa central.
Na China e no Brasil há enormes migrações internas. Sob o ditado da globalização, reforçou-se essa tendência à mobilidade espacial da força de trabalho, atingindo até mesmo os centros ocidentais. Na Alemanha, por exemplo, as delegacias de trabalho podem exigir de um desempregado que aceite um emprego a 100 km de sua residência e "visite" sua família só nos fins-de-semana. No interesse de sua carreira, empregados laboriosos vêem-se cada vez com mais frequência na obrigação de trocar de cidade, de país ou de continente em que prestam seus serviços. As pessoas transformam-se em nômades do mercado, incapazes de criar raiz social.
Da flexibilização também faz parte a constante alternância entre empregos subordinados e "autônomos". As fronteiras entre o trabalho assalariado e a livre iniciativa perdem a nitidez, mas isso também em detrimento dos trabalhadores. Na esteira do "outsourcing" surgem cada vez mais pseudo-autônomos sem organização empresarial própria, sem capital próprio, sem colaboradores e sem a célebre "liberdade empresarial", já que dependem de um único cliente a maioria da vezes sua antiga empresa, que desse modo poupa a contribuição previdenciária e, em lugar do piso salarial, paga somente os "honorários" daquilo que foi estritamente produzido, o que é sempre muito menos do que o antigo salário.
Flexibilização, em obediência ao mandamento de transferir o risco aos empregados autônomos e delegar a responsabilidade aos mais fracos, significa: mais produção e mais estresse por menos dinheiro. O liame empresarial se esgarça e os chamados colegas de emprego cindem-se em dois, de um lado os de carteira assinada, espécie em extinção cujos direitos trabalhistas são paulatinamente reduzidos ou cortados de todo, e de outro os colaboradores que convivem na precariedade, chamados por exemplo de "free-lancers" ou "portfolio-workers".
Entre os primeiros, por sua vez, cindem-se as repartições em "profit-centers" concorrentes. A cultura da empresa integrada faz parte do passado. Tomando como exemplo o multicartel da IBM, o historiador social americano Richard Sennet, em seu livro "O Homem Flexível" (1998), mostrou essa lógica da infidelidade: "Durante os anos de reestruturação, ao enxugar os gastos, a IBM não dava mais confiança a seus empregados. Foi-lhes comunicado, aos que restaram, que eles não eram mais os filhos da grande empresa".
Os indivíduos flexibilizados pelo capitalismo não são pessoas conscientes e universais, mas pessoas universalmente exploradas e solitárias. A nova responsabilidade pelo risco não é algo instigante, se não aterrador, pois o que se arrisca é a própria vida. A desconfiança generalizada corre mundo. Do clima de máfia e paranóia nasce uma cultura empresarial taciturna. Pessoas sem assistência e espoliadas ficam doentes e perdem a motivação. E tornam-se cada vez mais superficiais, dispersas e incompetentes. Isso porque a verdadeira qualificação exige tempo, tempo de que o mercado não dispõe mais. Quanto mais rapidamente mudam as exigências, mais irreal torna-se a qualificação, mais o aprendizado transforma-se num puro consumo de conhecimentos, num mero ossuário de dados. A qualidade fica para as calendas. Afinal, quando sei que tudo o que aprendo à custa de esforço perderá valor no momento seguinte, o fôlego de minha atenção será obviamente mais curto, e isso na exata proporção de meu desalento.
Mas empregados manhosos e sem coesão social, que só sabem lograr seus superiores, os clientes e seus demais colegas, tornam-se também contraproducentes para a empresa. Com a total flexibilização o capitalismo não soluciona sua crise, antes a conduz ao absurdo e demonstra que só é capaz de suscitar forças autodestrutivas.


Publicado na Folha de São Paulo com o título "Descartável e degradado" em 1999

Tradução de José Marcos Macedo

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A aprovação da sociologia e da filosofia no Ensino Médio é doutrinação barata ou Consciência crítica de fato?


Folha de São Paulo, segunda-feira, 09 de junho de 2008

NELSON ASCHER

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Como controlamos a lei, nós a usaremos para impor nossos dogmas aos adolescentes
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DISCUTÍAMOS DOSTOIÉVSKI . Ocorreu-me mencionar um personagem aparentemente secundário, mas de fato importante, de "Crime e Castigo" cuja trajetória no romance me parecia uma de suas melhores criações ficcionais. Lembrava seu papel, como aparecera na trama, o que fizera, que fim levara. Só que, na hora de dizer-lhe o nome, ele não me vinha à mente. Por nada neste mundo. Ninguém mais o recordava e, para piorar a situação, estávamos todos passando férias (pela última vez na minha vida, juro) num lugar remoto, sem bibliotecas nem telefones.
Forcei a memória, arrolando nomes em ordem alfabética. Nada. Evoquei na imaginação cada episódio relevante do romance e até cenas de um filme russo sobre ele cujos atores tinham os mais adequados "physiques du rôle" possíveis (o sujeito era um russo maciço, corpulento sem ser gordo, de meia-idade e da alta classe média), igualmente sem resultado.
Reconstruí na cabeça os lugares e horas em que li o livro, o que havia ao redor, como me sentia, o que conversei com amigos a respeito. Ainda assim, demorou dois dias para que, de súbito, seu nome me viesse como que por milagre: Svidrigailov.
Li "Crime e Castigo" no verão entre o fim do segundo colegial (segundo ano do segundo grau) e o começo do terceiro. É claro que o escritor russo me marcou profundamente e guardo recordações vívidas de seus livros bem como dos contextos de minhas leituras. Essa era, no entanto, uma época na qual minha memória funcionava bem e as lembranças que ficaram estendem-se não apenas a outras obras, como também a outras áreas.
Eu cursava então um dos melhores colégios de São Paulo. O ano seguinte era o do vestibular e pelo menos metade de minha classe entrou numa das três melhores escolas de medicina, enquanto os demais ingressaram em bons cursos de odontologia, biologia, administração etc. Se isso não depõe necessariamente a favor de nossa inteligência, decerto prova que a escola sabia maximizar nossa capacidade de memorizar as informações necessárias para atingirmos as metas propostas.
Mesmo assim, do grosso do que aprendi lá, não resta nenhum vestígio em meus neurônios. E me refiro não a disciplinas vagas, dependentes de interpretação, mas às rigorosas e/ou factuais: trigonometria e geometria analítica, ótica e química orgânica.
O que aconteceu? Meu cérebro deve tê-las guardado num arquivo provisório. Tão logo sua utilidade terminou, os arquivos, ao contrário daquele que continha "Crime e Castigo" (se bem que com a falha, que tive de reparar, no caso Svidrigailov) , foram "deletados".
Por sorte não estudávamos literatura estrangeira, senão Dostoiévski teria provavelmente tido o mesmo destino. Caso tivéssemos, como se tornou há pouco obrigatório para o ensino médio, cursos de filosofia e sociologia, o que sucederia com suas lições?
Cada qual de nós preserva em si aquilo que o atrai, emociona, interessa. Professores e pais podem nos obrigar a decorarmos tais ou quais informações por razões pragmáticas. Estas, porém, literalmente não "colam", ou seja, não se aderem a nada no interior de nossa consciência ou do nosso subconsciente (se é que isso existe). Respostas que antecedam as perguntas são piores que inúteis, pois elas acabam ocupando um lugar que, tornado ermo, não enseja mais que brotem naturalmente certas indagações.
Para que, num país que mal ensina (e ensina mal) coisas fundamentais como matemática, escrita e leitura, acrescentar essa sobrecarga que, além de inútil e irrelevante, nem as escolas privadas e muito menos as públicas terão condições de ensinar decentemente? Onde é que vão se recrutar bons professores de filosofia e sociologia?
Naturalmente essa disciplinas não serão minimamente bem ensinadas e todo mundo sabe disso. Não há quadros, não há tempo, não há verbas e, sobretudo, não há nem haverá interesse algum por parte das vítimas potenciais, os alunos.
A resposta se torna evidente quando ouvimos autoridades e os interessados confessando, sem querer, seu objetivo real. Eles falam em encorajar a visão ou pensamento crítico. Essa expressão nojenta oculta, ou melhor, revela o ápice da arrogância: nossa maneira de pensar, que chamamos mentirosamente de "crítica", é a certa, a única certa.
Como hoje controlamos a lei, nós a usaremos para impor nossos dogmas aos adolescentes, impedindo-os de pensarem por conta própria. Para que perder tempo com tentativa e erro se já temos todas as respostas? Enfim, sociologia e filosofia no ensino médio são apenas eufemismos. Seu nome verdadeiro é doutrinação barata.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Discriminação é crime!


Há poucos anos, um jornal norte americano acusava o guerrilheiro zapatista chamado de Subcomandante Marcos de ter trabalhado num bar gay em San Francisco.
Ele respondeu : Marcos é gay em San Francisco, negro da África do Sul, asiático na Europa, hispânico em San Isidro, anarquista em Espanha, palestiniano em Israel, indígena nas ruas de San Cristóbal, rocker na cidade universitária, judeu na Alemanha, feminista nos partidos políticos, comunista no pòs guerra fria, pacifista na Bósnia, artista sem galeria e sem portfolio, dona de casa num sábado à tarde, jornalista nas páginas interiores do jornal, mulher no metropolitano depois das 22h, camponês sem terra, editor marginal, operário sem trabalho, médico sem consultório, escritor sem livros e sem leitores e, sobretudo, zapatista no Sudoeste do México...

LEIA OUTRAS REFERÊNCIAS:
http://www.planetaportoalegre.net/publique/cgi/public/cgilua.exe/web/templates/htm/1P4OP/view.htm?user=reader&infoid=11547&editionsectionid=243

Se há uma novidade no Fórum Social Mundial é essa outra esquerda: os ativistas, militantes, rebeldes, fora dos partidos, fora das intituições, fora do centro. "Desobedientes" de todo o mundo, nome do movimento italiano que incendeia as ruas, pregando a desobediência e a “sabotagem” social. Uma militância que não precisa de centro, porque trabalha em redes, não precisa definir o que é "de direita" e "de esquerda", porque para eles só existe "o lado de dentro".
Também não possuem nenhum modelo pronto para oferecer. O Fórum é apenas um dos laboratórios mundiais dessa nova política. Uma militância que quer fazer da resistência um ato de criação, um contrapoder. Para enfrentar um poder sem fronteiras nem limites, mutante, é preciso ser igualmente fluido e plástico. Criar novos ícones e ser pop. Conectar a gente das ruas com hackers, nômades, rebeldes. Criar curto-circuito nas velhas representações políticas.

Guerrilha simbólica
Uma fala inquietante: Frederic Jameson, o teórico marxista que pensa a pós-modernidade. Falou no Armazém do Cais, num calor amenizado por borrifadas de ar gelado saindo de bicos de gás, uma nuvem de ar condicionado que se desfazia em brumas. Jameson traçou uma linha de horrores e ceticismo diante da história, mas foi ao ponto ao falar da necessidade de uma “renovação simbólica”: “Temos que examinar profundamente por que o conhecimento das atrocidades do capitalismo não nos levam mais à ação. As lutas políticas, portanto, não devem mais ter como meta a conscientização das pessoas porque isso já provou ser insuficiente para fomentar a ação política”.


Trata-se agora de uma guerrilha simbólica, que restitua certo impacto emocional, sensorial. É a questão que une Jameson, os disobbedienti, os zapatistas, os ativistas.

A marcha e a multidão
Como criar um movimento de desobediência civil de massa? O Fórum, na trilha do movimento dos movimentos (Marcha Zapatista, Seattle, Gênova, Davos, Florença...) é uma resposta. No primeiro dia, a marcha de abertura foi uma imensa mobilização contra a militarização e a guerra. A experiência da multidão heterogênea é forte: comissões, coletivos, indivíduos, etnias diversas, nacionalidades, singularidades.
Indios mexicanos e peruanos, ativistas bolivianos, brasileiros, afros, campesinos, capoeiristas, gays, a esquerda tradicional, o PSTU trotskista (fazendo muito barulho, com velhos slogans), a Juventude Petista, o PT Jovem, a Sinistra Giuvenile, o MST, os partidos comunistas do mundo interiro, os Tambores pela Paz, o Candombe argentino, o Psicodrama das Cidades, a capoeira, o EZLN, a comissão dos “disobbedienti” italianos, palestinos e israelenses, ativistas japoneses, espanhóis, americanos, “piqueteros”, movimento negro, ecologistas, zapatistas, Movimento Popular das Favelas, Amigos da Terra, o movimento anarquista, a Economia Solidária, peruanas feministas defendendo a luta armada, ONGs, a luta antimanicomial, os pró-legalização das drogas, o movimento anarquista, os ativistas das rádios livres, da democratização da comunicação, do ATTAC, da mídia independente, as organizações de mulheres, jornalistas, juristas, artistas, curiosos, o povo de Porto Alegre, a multidão.
Leia mais: http://p.php.uol.com.br/tropico/html/textos/2368,1.shl

leia mais em: http://novoperiscopio.blogspot.com/

quinta-feira, 5 de junho de 2008

O esporte precoce tem limites?


Olá pessoal, acredito que essa reportagem abaixo pode servir para pensar um pouco e quem sabe discutir sobre o papel que esporte ocupa na vida das crianças, principalmente quando elas são envolvidas em jogatinas. Há inúmeros sites que informam os detalhes dessas lutas em que os adultos pagam mais de R$ 100,00 para assisti-las trocar sopapos ao vivo e para apostar dinheiro.

Assistam e leiam, depois comentem a respeito.
Abraços, Márcio

Início da reportagem: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/04/080421_boxecriancas_np.shtml



Aqui estão dois links de discussão sobre o tema:

http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=23520&channel=45

http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=23451&channel=45

Texto e Vídeo do Fantástico: http://br.youtube.com/watch?v=UmxKmfbNROQ

Muay Thai: incentivo ao esporte ou à violência?

A mania começou na Ásia, tomou conta da Europa e agora está chegando ao Brasil: crianças, algumas de até cinco anos, estão lutando boxe! Mas será que elas podem praticar um esporte tão perigoso? E mais: quais os riscos para a saúde e para a formação desses meninos?

Socos, cotoveladas, joelhadas, chutes em toda parte do corpo. Inclusive na cara. Só não é permitido mesmo mordidas e cabeçadas. Esses são os golpes do Muay Thai, o boxe tailandês, um esporte violento, mas que vem crescendo em vários países do mundo, inclusive no Brasil. E em uma categoria que nem existe oficialmente, mas que podemos chamar de fraldinhas. São crianças de 6 a 12 anos de idade.

“Hoje, o Muay Thai é um esporte milionário. Pessoas ganham bolsas de US$ 1 bilhão no Muay Thai. Então, com isso, cria um sonho das crianças "ah, eu queria ser aquele lutador" e é normal. Como no futebol, não é?”, comenta Artur Mariano, treinador de boxe tailandês.

Rafael tem seis anos. Henrique tem 7 anos e Pacheco e Nicloas têm 8 anos.

Um documentário inglês apresenta os gêmeos Miah e Kian, de 5 anos, os garotos Connor e Sohan, de 9 anos e Thai, de 10 anos. Eles já estão literalmente na luta, em busca desse sonho.

O boxe tailandês virou febre entre a garotada na Europa. Só na Inglaterra, já são mais de 500 academias ensinando a luta para as crianças. Thai Barlow ganhou seis campeonatos nacionais. Ele tem apenas 10 anos e já nocauteou dois adversários da mesma idade. O seu preparo físico é pesado.

“Às vezes eu quero descansar, mas meus pais dizem: ‘tem que treinar mais, aprender mais’", conta Thai.

“Ele vai lutar contra os melhores da Europa, então ele tem que treinar muito”, alega o pai.

No Brasil, nós não temos crianças sendo preparadas para competições como acontece lá fora. Mas nem por isso os treinamentos nas academias deixam de ser intensos.

Nicolas, Pacheco, Rafael e Henrique fazem de duas a três aulas de 50 minutos por semana. Tudo começa com uma pequena corrida e alguns polichinelos para aquecer. Depois vem a simulação de golpes no ar. Sacos de pancada para trabalhar a força, almofadas para melhorar a coordenação e o "sparring" – a luta é pra valer.

“É melhor eles brigarem, ou melhor, brincarem aqui, do que sair na rua brigando também. Eles estão fazendo esporte aqui e tão desolando todas as tensões dentro de um ringue, dentro duma academia”, justifica Emerson Debon, pai de Nicolas.

Mas, com oito anos?

“Com oito anos. Desde pequenos lês são nervosos e já têm ansiedade. Então, acho que é bem saudável isso para ele”, complementa ele.

Os médicos não concordam.

“O boxe é enquadrado pela Academia Americana de Ortopedia e pela Academia Americana de Pediatria como sendo um esporte de colisão, um esporte de contato. E também é um esporte onde existe uma necessidade de preparação física muito grande. Ou seja, as crianças até os 10, 12 anos de idade não têm ainda aptidões físicas e neuro-musculares de praticar tal esporte. A criança quando leva um soco na cabeça, ela pode gerar uma alteração no funcionamento do cérebro. Estudos mostram que o uso do capacete protege os adultos, mas não as crianças”, alerta João Alves Grangeiro Neto, médico ortopedista do Comitê Olímpico Brasileiro.

“Essas crianças podem ter dificuldade no aprendizado, podem ter dificuldade em memorização e podem, sem dúvida alguma, deixar essas crianças pré-disponíveis a uma lesão mais grave”, complementa João Alves.

“Machuca, mas é pouco. A gente tem luva, tem caneleira, tem o capacete de cabeça, tem o protetor bucal. Com isso, eles não se machucam. Não tem como”, defende. “O pai e a mãe dele estão aqui. O Henrique, por exemplo, já voltou para casa machucado alguma vez?”, discorda o mestre Arthur.

Durante o treino, Rafael pára e parece estar chorando. O pai tira o capacete do filho, que está chorando. Minutos depois, a joelhada do Henrique machuca boca do Rafael, que também começa a chorar.

“Com a presença da televisão, eles ficaram excitados, querem fazer bonito. Foi a primeira vez que ele chorou aqui. Nunca tinha visto. Você vê”, justifica mestre Arthur.

A Federação Internacional de Boxe Tailandês só aceita maiores de 14 anos em suas competições. Mas isso não impede que as academias espalhadas pelo mundo criem campeonatos com suas próprias regras.

Na Tailândia por exemplo, as crianças lutam sem os equipamentos de segurança. Até sem capacete. E pior: com apostas em dinheiro.

Já nos Campeonatos Europeus, os equipamentos de segurança são obrigatórios. E em vários campeonatos, socos na cabeça são proibidos.

No Brasil, a competição entre menores de 14 anos é proibida. Mas no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, crianças abaixo desse limite de idade já se enfrentam nos ringues em eventos onde tudo lembra uma competição. Mas que os organizadores fazem questão de frisar que se trata apenas de uma apresentação.

O clima nas arquibancadas é de competição. E o nervosismo das crianças também. Qual será a sensação para essas crianças quando o momento da apresentação se aproxima?

“Assim, no meu corpo todo, parece um choque, pois tenho medo de perder”, justifica Antônio Pacheco.

Até mesmo o organizador do evento se confunde ao tentar explicar, a diferença entre competição e apresentação.

“Abaixo de 14 anos não tem uma legislação em nível mundial. Porém, aqui no Brasil, estamos fazendo a nível de incentivo. As crianças participam de competições por experiência e ambas conquistam o primeiro lugar”, diz Carlos Camacho, supervisor técnico da Federação Brasileira Muay Thai Tradicional.

“Então já existe no Brasil competição com crianças abaixo de 13 anos?”, pergunta Renata Ceribelli.

“Estamos começando neste primeiro evento aqui no Rio Grande do Sul”.

“Eu achei que fosse só uma apresentação. É uma competição?”, questiona Renata.

“Não, é uma apresentação, uma luta de exibição. Não é uma luta de competição”, tenta explicar o organizador.

“Para você é como se fosse uma competição?”, indaga Renata para uma criança.

“Sim, porque não deixa de ser uma luta”, responde uma criança.

Mas, afinal, que diferença faz para as crianças?

“A aula é uma coisa, a competição, o circo romano é outra. Emocionalmente, você brincar de boxe é uma coisa. Você pode ter conseqüências muito nocivas, pois a criança vai se sentir extremamente pressionada. Isso traduz, na verdade, uma questão do pai, uma frustração que ele não resolveu e está passando para a criança”, alerta Maria Inês Bittencourt, psicóloga da PUC do Rio de Janeiro.

Parece ser o caso da inglesinha Miah. Com apenas 5 anos, ela sempre chora, antes de entrar no ringue. Muitas vezes os pais pressionam e parecem nem perceber.

“Às vezes eu erro e troco os golpes. E o meu pai fala faz direito assim, assim, assim. Se eu não fizer, ele me dá uma tunda”, conta a criança.

O pai interrompe: “Pára de falar isso aí. Todo pai quer ver o quê? O filho ser o melhor, né? Na realidade, o pai sempre quer o filho campeão”.

O Luiz é professor de boxe e o filho, André, tem três anos.

“Eu já estou preparando o meu filho para ser um lutador, já estou familiarizando ele. Mas, ao mesmo tempo, dá um dó no coração. Como lutador é uma coisa, mas meu filho fica um pouquinho difícil. Estou com dois corações”, confessa Luiz Fernando Costa, professor de boxe tailandês.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Como progredir socialmente sem leitores críticos da realidade?


JC e-mail 3521, de 29 de Maio de 2008.

45% dos brasileiros dizem que não gostam de ler

Leitura foi 5ª opção citada (35%) sobre o que fazer no tempo livre; 77% opta pela TV. Sul é região onde mais se lê (média de 5,5 livros por pessoa), à frente do Sudeste (4,9), Centro-Oeste (4,5), Nordeste (4,2) e Norte (3,9)

Lucas Ferraz escreve para a “Folha de SP”:

No país de escritores como João Guimarães Rosa, Machado de Assis e Carlos Drummond de Andrade, 45% dos entrevistados na pesquisa "Retratos da Leitura no Brasil" disseram não gostar de ler. O percentual, aplicado à população brasileira, corresponde a mais de 77 milhões de pessoas.

Segundo o balanço, realizado pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística), a pedido do Instituto Pró-Livro, e divulgado ontem (28/5), o brasileiro lê, em média, 4,7 livros por ano, e compra ainda menos, média de 1,2 exemplar a cada 12 meses. Quando indagada sobre o que prefere fazer em seu tempo livre, a maioria da população opta pela televisão (77%) -a leitura foi a quinta opção citada pelos entrevistados, com 35%, atrás de hábitos como ouvir música e rádio e descansar.

Em um país que tem 18% de analfabetos, segundo dados de 2006 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi considerado como leitor quem leu pelo menos um livro durante os três meses anteriores à pesquisa, feita entre novembro e dezembro de 2007, equivalente a 55% dos entrevistados.

Entre os leitores que dedicam seu tempo livre para ler, 27% deles lêem revistas (leitura semanal) e 20%, jornais (leitura diária). Os livros são preferidos para leituras mensais -como afirmaram 14% dos entrevistados.

Por região

O Sul é a região onde mais se lê (média de 5,5 livros por pessoa), à frente do Sudeste (4,9 livros), Centro-Oeste (4,5 livros), Nordeste (4,2 livros) e Norte (3,9 livros). Em 2001, na primeira edição da pesquisa, a média de leitura da população era de 1,8 livro por ano, mas as metodologias utilizadas são diferentes.

Enquanto aquela ouviu pessoas com idade superior a 15 anos, a pesquisa divulgada ontem entrevistou crianças a partir dos cinco anos e analfabetos funcionais, em todos os Estados e no Distrito Federal. A margem de erro da pesquisa é de 1,4 ponto percentual.

Na opinião do escritor Luis Fernando Verissimo, o preço do livro é uma barreira contra novos leitores. "A maioria está mais preocupada em sobreviver, não tem como comprar livro", disse o escritor -o último da lista de 25 nomes mais admirados ("estou na zona de rebaixamento", brincou).

Galeno Amorim, coordenador da pesquisa, negou que o preço seja um "complicador" -o estudo contou com o apoio do Snel (Sindicato Nacional dos Editores de Livros) e da CBL (Câmara Brasileira do Livro).


Hábito

As professoras aposentadas Manoelina de Barros, 75, e Maria Helena Tosoni, 68, gostam de se encontrar em livrarias para comprar livros. Elas afirmam que só têm essa disponibilidade porque são aposentadas, e lamentam que a maioria dos professores leia pouco. Sobre o motivo, Tosoni é categórica: "Se o salário fosse maior, leríamos mais".

A metroviária Telma Piccirillo, 45, diz que nunca obrigou seus filhos Victor, 10, e Taynã, 15, a ler, mas sempre cultivou o hábito: "Quando não sabiam ler, eu lia para eles". Ela acredita que lê mais que seus colegas: "Eles são meio preguiçosos".
(Folha de SP, 29/5)

Por quê será que trabalhar em escola não agrada?


Extraídos de: http://www.jornaldaciencia.org.br
JC e-mail 3521, de 29 de Maio de 2008.

83% dos alunos têm professor insatisfeito, afirma a Unesco

Entre 11 países emergentes, apenas docentes uruguaios estão mais insatisfeitos com os salários, segundo pesquisa. O total de estudantes cujos professores trabalham em mais de uma escola chega a 29% no Brasil, o maior entre todos os países analisados

Antônio Gois escreve para a “Folha de SP”:

Os professores brasileiros, com exceção apenas de seus colegas uruguaios, são os mais insatisfeitos com seus salários, segundo um relatório divulgado ontem (28/5) pela Unesco, no comparativo entre 11 países em desenvolvimento. No estudo, 83% dos alunos do ensino primário (equivalente, no caso brasileiro, aos quatro primeiros anos do ensino fundamental) estão em classes cujos docentes se declararam insatisfeitos com os salários.

O relatório também mostra, como já evidenciado em outros estudos da Unesco, que as taxas de repetência no ensino primário no Brasil destoam, e muito, das de outros países. No Brasil, a repetência chega a 19% dos alunos no ensino primário, mais que o dobro da verificada no segundo país com maior percentual, o Peru, com 8,8%.

O estudo da Unesco, intitulado "Um Olhar para o Interior das Escolas Primárias", faz parte do programa WEI (sigla, em inglês, de Indicadores Mundiais de Educação), que monitora a educação em países em desenvolvimento.

Duplo emprego

Sobre o alto grau de insatisfação dos professores brasileiros com seus salários, o representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, destaca outro dado do relatório, que mostra que o percentual de alunos cujos professores trabalham em mais de uma escola chega a 29% no Brasil, o maior entre todos os países analisados.

Não por acaso, os outros dois países com maiores percentuais nesse quesito são Argentina e Uruguai, onde igualmente o nível de insatisfação com o salário chega a mais de 80%. "Todo mundo que trabalha sabe que uma dupla jornada afeta o desempenho. Isso tem certamente impacto em sala de aula", diz Defourny.

A professora Sandra Aparecida Martins Ferreira, 38, concorda. Ela leciona tanto na rede estadual quanto municipal na zona leste de São Paulo. As nove horas e meia de trabalho diárias lhe rendem ao final do mês R$ 2.200.

"É muito pouco, considerando o desgaste que temos. Os alunos vêm cada vez mais com problemas familiares e nós não conseguimos desenvolver o que desejamos. É frustrante", diz Sandra, que dá aulas para estudantes de 1ª a 4ª séries.

Infra-estrutura

Na maioria das situações analisadas pelo estudo -como a infra-estrutura das escolas ou as condições de oferta do ensino- o Brasil se encontra perto da média dos países analisados -não foram analisados dados de países desenvolvidos. Os brasileiros, por exemplo, não se mostraram tão insatisfeitos em relação ao número de alunos por turma, a participação dos pais de alunos na escola ou a oferta de material didático.

No caso do número de alunos por turma, por exemplo, 34% estudam em classes cujos professores demonstraram algum grau de insatisfação com a questão. A média no ensino primário brasileiro é de 27 crianças por sala de aula. A maior relação foi encontrada na Índia (51 por sala), e a menor, na Malásia (18 por sala).

Investimento

Além de ter professores insatisfeitos com seus salários, o Brasil também não é o país que mais investe no ensino. O gasto médio brasileiro por aluno do ensino primário, de US$ 1.159, é bem superior ao de países que estão no fim da fila, como Peru (US$ 479) ou Índia (US$ 484), mas fica bem abaixo do Chile (US$ 2.120), segundo o relatório da Unesco.

Na comparação dos valores em dólares, a entidade leva em conta o custo de vida em cada um dos 11 países em desenvolvimento incluídos no estudo. Para Vincent Defourny, representante da Unesco no país, a distância do Brasil em relação ao Chile mostra que seria possível investir mais.

Ele destaca que o relatório também mostra que, enquanto no Brasil a média de tempo de um aluno em sala de aula é de 800 horas por ano, no Chile ela chega a 1.200 horas. "Uma educação de melhor qualidade é também uma educação em que o aluno passa mais tempo em sala. Isso certamente tem um custo, mas que se reflete na qualidade", afirma Defourny.

O representante da Unesco afirma ainda que um ponto importante do relatório e comum a todos os países analisados é o alto grau de desigualdade nas condições de acesso à educação. "A escola não está funcionando como um corretor das desigualdades nesses países."

Família

O estudo da Unesco também analisou algumas características familiares que normalmente interferem de forma negativa no desempenho dos estudantes. Entre os países analisados, o Brasil aparece com percentuais acima da média no caso de alunos que vivem em casas onde há menos de 25 livros disponíveis e no de famílias monoparentais, ou seja, em que há só a mãe ou o pai.
(Folha de SP, 29/5)

sábado, 24 de maio de 2008

Dilemas na Educação Física Escolar



Pois é galera, vira e mexe, representantes dos combalidos discursos reducionistas reaparecem com argumentos aparentemente promissores, em que medições e cálculos servem de fundamento para estabeler padrões de desenvolvimento humano adaptados aos interesses de uma fração da sociedade atual, cujos valores capitalistas só consideram aquilo que tem base no princípio da utilidade imediata, deixando de lado outras questões relacionadas a vida cultural que não rendem lucro.

Nesta perspectiva, tudo deve sucumbir à idéia da rentabilidade instantânea, da máxima eficiência nas ações e eficácia na maximização da exploração da matéria-prima. Tanto faz animais, plantas, minerais, águas, terras, e, não menos importante, pessoas que são tratadas como coisas! E como seres coisificados podem ser excluídos, interditados, cortados, modificados, reestruturados, e, porque não, descartados, quando atrapalham o progresso do capital. Basta observar nas metrópoles os miseráveis em condições subumanas, famintos, degradados em sua dignidade, muitos prostituídos, drogados, escravizados, avolumados em prisões e/ou campos de trabalho forçados. Seja em nosso país, na América Latina, na Ásia ou na África, as informações são inquietantes, que somados ao processo de exploração capitalista dos recursos naturais, culminam em uma espécie de barbárie planetária. Mas a questão central é se precisamos continuar assumindo um comportamento predatório do mesmo modo que as gerações anteriores? Se de fato estamos avançando em termos de progresso humano, será que temos condições de refletir nossas ações e fazer um balanço das atitudes tomadas no conjunto da sociedade e, quem sabe, propor mudanças na direção de um equilíbrio entre capital e trabalho (produção e consumo)?

Algumas das propostas "bem intencionadas" parecem avançar pouco no sentido de uma melhor compreensão do corpo como resultado das múltiplas expressões manifestadas ao longo da história humana. Propor movimentos "estereotipados" pode comprometer a condição física e o significado por parte daqueles que ainda não descobriram as possibilidades de usufruir de seu próprio corpo e o quanto poderiam ser beneficiados com esse "saber de si". A diminuição do repertório de movimentos nas aulas de Educação Física Escolar resulta em perda para os alunos, como também para os próprios professores de EF quando permanecem restritos a poucas opções pedagógicas. Aceitar a substituição passiva do "brincar" para o "treinar", por vezes precocemente, é tão comprometedor para o desenvovimento físico, psiquico, emocional e social quanto deixar de debater com os estudantes os desígnios de um mundo que preconiza a "diversão" e o "prazer" instantâneo como motivo para a vida adulta. Seria, no mínimo, um absurdo deixar de perceber que o entretenimento global tem tirado vantagem desse contingente de futuros atletas que, em sua imensa maioria, terminam sendo descartados e abandonados à própria sorte. Não se trata aqui de recusar as oportunidades que o esporte ou qualquer outra manifestação corporal oferecem e, sim, ponderar a respeito daquilo que está sendo feito com os alunos nas escolas. Incentivar os cuidados com a saúde por meio da prática de atividades físicas, esportivas ou não, acaba sendo o recurso mais utilizado pelos professores nas aulas de Educação Física Escolar, sem que isso seja visto em panorama. Entretanto, não convém esquecer que a idéia de atividade física requer de todos nós, a consciência de que existem muitos trabalhos humanos injustos.

Para exemplificar, cito o corte de cana-de-açúcar, no qual um trabalhador médio deve produzir 10 toneladas cortadas em um dia de trabalho. Para atingir a meta estabelecida, o trabalhador se vê obrigado a desferir milhares de golpes de facão para receber cerca de R$ 2,50 por tonelada cortada. Alguns números ilustram o que ocorre. Para cada dez toneladas, o cortador deve dar cerca de 72 mil golpes de facão, fazer 36 mil flexões de perna, chega a perder cerca de 10 litros de água por dia e caminha até 10 quilômetros diários enquanto realiza seu trabalho. Além de andar e golpear a cana, o trabalhador tem que, a cada 30 cm, se abaixar e se torcer para abraçar e golpear a cana bem rente ao solo e levantar-se para golpeá-la em cima, juntar os fardos de 15 kg nos braços a uma distância de 3 metros, repetindo esse movimento mais de 800 vezes. Entre os problemas de saúde, se destacam má atividade dos rins, desgaste da coluna vertebral, tendinite nos braços e mãos em razão dos esforços repetitivos, doenças nas vias respiratórias causadas pela fuligem da cana, deformações nos pés em razão do uso dos "sapatões" e encurtamento das cordas vocais devido à postura curvada do pescoço durante o trabalho.

“Além de todo este dispêndio de energia andando, golpeando, contorcendo-se, flexionando-se e carregando peso, o trabalhador sob o sol utiliza uma vestimenta composta de botina com biqueira de aço, perneiras de couro até o joelho, calças de brim, camisa de manga comprida com mangote, também de brim, luvas de raspa de couro, lenço no rosto e pescoço e chapéu, ou boné. Este dispêndio de energia sob o sol, com esta vestimenta, leva a que os trabalhadores suem abundantemente e percam muita água e junto com o suor perdem sais minerais e a perda de água e sais minerais leva a desidratação e a freqüente ocorrência de cãibras. As cãibras começam, em geral, pelas mãos e pés, avançam pelas pernas e chegam no tórax, o que provoca fortes dores e convulsões, que fazem pensar que o trabalhador esteja tendo um ataque nervoso. Para conter as cãibras e a desidratação, algumas usinas já levam para o campo e ministram aos trabalhadores soro fisiológico e, em alguns casos suplementos energéticos, para reposição de sais minerais.”
Francisco Alves. Por que morrem os cortadores de cana? Saúde e Sociedade, 2006, vol.15, n. 3, ISSN 0104-1290. (In: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104- 12902006000300008&script=sci_arttext&tlng=pt http://www.cpt.org.br/?system=news&action=read&id=316&eid=129


Esses cálculos estatísticos representam dados intrigantes, passíveis de desconfiança, já que tais trabalhadores chegam a morrer por excesso de trabalho, e mesmo aqueles que agüentam, ao que tudo indica, diminuem substancialmente a perspectiva de vida útil abaixo do 15 anos suportando esse suplício.

Esse é apenas um caso notório de atividade física exaustiva dentre muitas outras que poderiam ser debatidas (extração de palma, fumo, estivadores, garis, lixeiros, etc). Bom, a pergunta não respondida é se estamos falando de atividades físicas das quais a Educação Física Escolar deve se responsabilizar ou não? Se não seria o caso de restringir o campo de atuação da EF a somente alguns segmentos do trabalho humano, preferencialmente aqueles, aparentemente sem contradição, em que não se requer grandes análises ou reflexões?

Retomando a discussão sobre a Educação Física Escolar, embora já exista uma quantidade razoável de livros e artigos publicados nos últimos anos e suas possibilidades e seus problemas sejam cada vez mais conhecidos, as dificuldades encontradas na realidade escolar não são simples. Às vezes são até distintas umas das outras, pois cada escola está inserida num contexto extremamente complexo. Por mais boa vontade dos envolvidos, é preciso reconhecer que não existem respostas conclusivas, sob as quais não restariam dúvidas quando aplicadas a todas as escolas brasileiras de forma mágica. Existe, claro, problemas comuns a maioria dos professores e escolas, mas ainda que houvesse uma solução milagrosa enfrentaríamos dificuldades para lidar com aspectos que interferem diretamente na qualidade das aulas ministradas.

Penso que, talvez, as propostas que buscam soluções necessitem de um entendimento mais profundo sobre o que está acontecendo nas escolas atualmente. Para além das questões específicas da área no currículo escolar, muitas outras questões sofrem interferência do ambiente social, diante da desigualdade de oportunidades temas relacionados à violência e às drogas no interior da escola e em seu entorno podem tornar o trabalho pedagógico do professor inviável. Diante de compreensões estreitas, determinadas propostas de atividades pedagógicas acabam por produzir tarefas desprovidas de sentido, tanto para o professor quanto para o aluno.

Portanto, a atuação docente descomprometida com os alunos que estão diante de falta de um projeto de vida, sem melhores perspectivas futuras, num cenário de desemprego e corrupção generalizados, com prognósticos alarmantes para o meio-ambiente, e, carência de exemplos de pessoas com comportamento ético, resultam em dificuldades extras ao lidar com o ensino formal. Enfim, as conseqüências desse processo estão sendo diagnosticadas aos poucos, mas já é possível apontar que isso tem impacto no baixo estímulo dos professores quando estão em seu trabalho diário, com turmas numerosas, baixos salários, psicologicamente em ruína, entre outros. É possível que a "síndrome de burnout" seja algo indicativo um problema mais grave ainda!

Os obstáculos a serem superados são enormes, pois tanto os cursos de graduação em Educação Física, quanto alunos e professores estão diante de um impasse na formação humana. É sabido que tamanhas dificuldades poderiam barrar o processo de buscar alternativas e, evidentemente, minhas palavras não encerram o assunto, mas ao contrário, só me dispus a escrever este texto com o objetivo de iniciar um debate. E para não me estender mais, termino com a sugestão de articular duas idéias:

- primeiro: viabilizar a formação pedagógica dos professores de Educação Física com excelente nível (domínio do conhecimento técnico em bases científicas; compromisso nas questões políticas para a transformação da sociedade; e responsabilidade social por todos aqueles que estão ao nosso alcance).

- segundo, é o engajamento nas lutas por melhores condições de trabalho (salários, materiais, infra-estrutura, cursos de capacitação, desenvolvimento de pesquisas pelos próprios professores das escolas e não mais subservientes a outras instituições). Ou seja, conjugar as ações com todos aqueles que estão resistindo às investidas dos grupos com interesses mercadológicos que visam tão somente a exploração da mão-de-obra do professor, precarizando as condições de trabalho dos docentes e danificando o processo de aprendizagem dos alunos.

A expectativa delineada aqui para a Educação Física Escolar esbarra nas divergências sobre o modo de encaminhar tais soluções. O conflito é aberto e as estratégias de luta nem sempre francas.
Por enquanto é isso, abração.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Enfim, algo sensato sobre a violencia infantil!



Estadão, ALIÁS
27 de abril de 2008
FONTE: http://www.estado.com.br/suplementos/ali/2008/04/27/ali-1.93.19.20080427.13.1.xml

CASO ISABELLA


Pais sem rumo, crianças sofridas
Filhos não têm como se defender da displicência, dos excessos ou da irresponsabilidade dos pais
Maria Rita Kehl*

No momento em que escrevo este artigo ainda não há conclusões definitivas sobre o assassinato da menina Isabella. Mas desde o primeiro dia a sociedade já havia decidido condenar o casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá. Aos poucos a indignação popular aumentou, orquestrada inescrupulosamente pelos telejornais em disputa por audiência, até se transformar em pura sanha linchadora.
Não me disponho a tentar explicar o que teria levado um pai e uma madrasta a assassinar, ainda que acidentalmente, uma criança, e depois livrar-se do corpo de maneira tão brutal. Fora da clínica e da transferência, o psicanalista é tão leigo quanto qualquer pessoa ante os sintomas e surtos alheios. O que a experiência clínica oferece são algumas chaves para a compreensão das condições subjetivas presentes em uma sociedade, que favorecem certas manifestações aberrantes, violentas e aparentemente incompreensíveis.
Como entender essa torcida em massa para que o pai e a madrasta de Isabella sejam os culpados? Em primeiro lugar, penso que diante dos crimes domésticos as pessoas se sentem menos inseguras do que diante do fantasma da violência social generalizada que assola o país. "Se o crime foi cometido em família, isso é lá problema deles", pensamos, na esperança de que em nossa família essas coisas não aconteçam. Em segundo lugar, a família de Isabella pertence à mesma classe média dos consumidores de jornais e revistas, público alvo dos anunciantes da televisão. No dia 20 de abril, um menino negro de 11 anos foi morto com um tiro na cabeça na favela da Vila União, em São Paulo. Até agora, não vi a imprensa acompanhar a apuração do assassinato do pequeno Jefferson Alves, considerado desinteressante pela sociedade.
É evidente que a figura mitológica da madrasta excita a imaginação popular. A personagem da madrasta má, nas histórias infantis, encobre o lado sombrio da mãe. É ela quem encarna o egoísmo, a rivalidade, a crueldade ou o descaso para com o sofrimento das crianças, de modo a manter a idealização da maternidade biológica e conservar a santa mãe em seu pedestal. No entanto, qualquer psicanalista sabe o quanto as mães são capazes de abusar de seus filhos, rivalizar com suas filhas, violentar a dignidade deles, desrespeitar seus direitos.
O colunista da Folha de S. Paulo Contardo Calligaris fez uma análise interessante sobre o ciúme que algumas madrastas sentem de suas enteadas, disputando com elas o lugar de filhas de seus companheiros. Vale lembrar que a presença do (a) enteado (a) também pode reavivar os ciúmes da madrasta em relação à mulher que a precedeu. Mas nem todas as madrastas odeiam seus enteados. Conheço casos, em meu próprio consultório, em que a presença e a intervenção de madrastas generosas e sensíveis praticamente salvou a infância de filhos maltratados ou abandonados por mães imaturas, que se vingavam do ex-marido maltratando os filhos dele. Evito embarcar em uma defesa conservadora da família "de sangue" em detrimento de outras configurações familiares.
Os crimes domésticos colocam em evidência o desamparo infantil. As crianças não têm como se defender da displicência e da irresponsabilidade dos pais, nem dos excessos de amor, de sensualidade, de ira, de gozo: pais, mães, padrastos, madrastas, avôs e avós abusam de várias maneiras, "por amor", de crianças indefesas. Neste sentido, para a criança, a família não é um ambiente tão seguro quanto se imagina. Pesquisa da Unicef sobre a violência doméstica no Brasil revela que 44,3% dos homicídios de crianças ocorrem dentro de casa, sendo 34,4% deles cometidos por parentes das vítimas. Sem contar os casos de abuso sexual, que ocupam o primeiro lugar na lista das formas de violência familiar.
É evidente que existem famílias tranqüilas, pais e mães equilibrados e protetores. Mas a família moderna, fechada sobre si mesma, toda voltada para a produção de bem-estar, fundada nas formas mais egoístas de amor, é um canteiro propício, no mínimo, à violência psicológica. Os filhos frustram as expectativas dos pais, o amor vira moeda de barganha e chantagem mútua, a esperança de entendimento de parte a parte é freqüentemente obstruída pela culpa que cada um sente por não amar o outro tanto quanto devia.
Apesar disso, não existe nenhuma outra instituição que a substitua. Desejamos formar família, viver em família, criar condições de convívio protetoras, agradáveis. Mas é bom lembrar que se a família, em seus moldes tradicionais, fosse um mar de rosas, Freud não teria criado a psicanálise.
Se a criança é desamparada frente aos que cuidam dela, os adultos de hoje também se sentem desamparados no exercício de suas funções. A vida contemporânea está tão privatizada, tão indiferente a valores ligados ao bem comum, a sociedade tornou-se tão narcisista e infantilizada, que o bem-estar das crianças se tornou praticamente o único ideal dos adultos. Ser "bom pai" tornou-se a razão de viver de adultos que perderam as referências para saber tanto o que é ser "bom" quanto o que é ser "pai" (ou "mãe"). Se os filhos se tornam o único ideal de seus pais, estes não têm mais nada a lhes transmitir a não ser "seja feliz" - isto, numa sociedade em que felicidade se mede pela capacidade de consumo e diversão.
O desamparo do adulto diante das exigências dos filhos, a quem eles próprios prometeram dar "tudo de bom e de melhor", tem resultados patéticos ou, no pior dos casos, trágicos. Algumas crianças, hiperestimuladas e excitadas, ficam cada vez mais insatisfeitas e agressivas enquanto os pais, incapazes de estabelecer limites para a farra que eles mesmos prometeram, vivem exasperados, culpados, impotentes - e às vezes, tão fora de controle quanto os pequenos. Um adulto que se vê incapaz de educar uma criança é capaz de confundir autoridade com violência, poder simbólico com coerção física.
Vez por outra, um desses pais incapazes de colocar limites em seus filhos também corre o risco de perder os próprios limites.

* Maria Rita Kehl, psicanalista, escreveu Sobre Ética e Psicanálise (Companhia das Letras) e Ressentimento (Casa do Psicólogo), entre outros.

São essas as novas versões do trabalho do século XXI?



Folha de São Paulo, quinta-feira, 01 de maio de 2008

O que temos para comemorar?

RICARDO ANTUNES

Vivemos uma explosão de denúncias sobre o aviltamento do trabalho. A cada dia vemos mais exemplos de trabalho escravo no campo, nos rincões do latifúndio. No agronegócio do açúcar, cortar mais de dez toneladas de cana por dia é a média por baixo, "low profile".
No final do ano passado, esta Folha descreveu a degradação do trabalho imigrante, especialmente boliviano, nas empresas de confecção em São Paulo. Jornadas de até 17 horas diárias em troca de casa e comida. Trabalho imigrante no limite da condição degradante.
Mas o espetáculo é multifacético e se esparrama por todas as partes: "chicanos" nos EUA, decasséguis no Japão, "gastarbeiters" na Alemanha, "lavoro nero" na Itália, "brasiguaios" no Paraguai -a lista não tem fim.
Sem falar nos desempregados do Leste Europeu que invadem o "pequeno canto do mundo" ocidental em busca dos restos do labor.
Se nos inícios do século 20 os povos do Norte migraram em massa para o Sul, encontrando acolhida, agora presenciamos o exato inverso, pois o fluxo migracional mudou de direção. Os deserdados do Sul tentam furar os bloqueios do Norte, cujo exemplo mais abjeto é o muro da vergonha que separa os EUA do México.
Ou, mais sutil, mas também cruel, a barreira das polícias alfandegárias nos aeroportos do chamado "mundo civilizado", obstando a entrada dos "bárbaros" do fim do mundo. O exemplo da Espanha contra brasileiros é a mais recente expressão fenomênica do problema e fala por si só.
Mas há uma autêntica conquista da chamada globalização: enquanto os capitais migram com velocidade mais ágil que a dos foguetes, o trabalho deve mover-se no passo das tartarugas.
Capitais transnacionais livres e trabalhadores nacionais cativos. Num mundo cada vez mais maquinal, informacional e digital, presenciamos também a explosão do "cybertariado" (Ursula Huws), trabalhador qualificado da era da cibernética que vivencia as condições do velho proletariado. A informalização, dada pela perda de liames contratuais de trabalho, vem aumentando em escala global, num contexto de ampliação de todas as formas de terceirização, gerando as mais distintas modalidades de trabalho precário, que se desenvolvem com a chamada polivalência da era flexível.
No Japão, jovens operários migram em busca de trabalho nas cidades e dormem em cápsulas de vidro, do tamanho de um caixão. São os operários encapsulados. Do outro lado do mundo, na nossa América Latina, encontramos trabalhadoras domésticas (mulheres e crianças) que atingem a jornada semanal de 90 horas de trabalho, com um dia de folga ao mês (Mike Davis), numa era em que poderíamos trabalhar dez vezes menos, se a lógica predominante não fosse tão destrutiva para a humanidade que depende de seu trabalho para sobreviver.
São essas algumas cenas do trabalho hoje. E ninguém poderá buscar um emprego, atualmente, se não demonstrar que realiza "trabalhos voluntários". É curioso: para conseguir emprego, são "obrigados" a realizar trabalhos "voluntários".
E isso sem falar na explosão do estagiário, candidato fresquinho a roubar um trabalho efetivo com remuneração de escravo. Ou nas tantas manifestações de desigualdade de gênero, em que as mulheres trabalham mais, com menos direitos e reduzida remuneração. Sem falar das diferenciações étnicas e raciais.
Quero terminar indicando só mais um exemplo de trabalho degradado: a crescente inclusão de crianças no mercado de trabalho global, nos países latino-americanos, asiáticos, africanos, bem como nos países centrais, como EUA, Inglaterra, Itália, Japão, sem falar na China, Índia etc.
Não importa que o trabalho adulto se torne supérfluo e que muitos milhões de homens e mulheres em idade de trabalho vivenciem o desemprego estrutural. Mas os meninos e meninas devem, desde muito cedo, fazer parte do ciclo produtivo: seu corpo brincante transfigura-se muito precocemente em corpo produtivo para o capital (Maurício da Silva).
Na produção de sisal, na indústria de calçados e confecções, no cultivo de algodão e cana, nas pedreiras, carvoarias e olarias, no trabalho doméstico, são inúmeros os espaços em que o trabalho infantil valoriza o capital.
Na indústria de tapeçaria da Índia, lembra Mike Davis, as crianças trabalham de cócoras em jornadas que chegam a 20 horas por dia. E na indústria do vidro, trabalham ao lado dos tanques com temperatura próxima de 1.800 graus centígrados ("The State of the World's Children - 1997", Unicef). Seriam, então, esses exemplos excrescências dentro de uma ordem societal preservadora do trabalho?


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RICARDO LUIZ COLTRO ANTUNES, 54, é professor titular de sociologia do trabalho do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e autor, entre outros livros, de "Os Sentidos do Trabalho".

terça-feira, 15 de abril de 2008

Depois de um ano e meio, já dá pra entender a minerice!



Fonte original: http://bertilicia.multiply.com

Dica = leia as palavras da coluna esquerda em voz alta!
lidileite = litro de leite

mastumate = massa de tomate
dendapia = dentro da pia
badapia = debaixo da pia
unkidicarne = 1 kilo de carne
tradaporta = atras da porta
badacama = debaixo da cama
pingumel = pinga com mel
iscodidente = escova de dente
nossinhora = nossa senhora
pondiôns = ponto de onibus
denduforno = dentro do forno
doidimai = doido demais
tidiguerra = tiro de guerra
ãnsdionti = antes de ontem
secetembro = sete de setembro
sapassado = sabado passado
óiuchêro = olha o cheiro!
óikichero = olha que cheiro
vidiperfum = vidro de perfume
óiprocevê = olha pra voce ver!
tirisdaí = tira isso dai
onquié = onde que é?
quainahora = quase na hora
otudia = outro dia
prõnóstãuínu = para onde nós estamos indo?
ládoncovim = lá de onde que eu vim
proncovô? = para onde que eu vou?
Oncotô? = onde que eu estou?
Simbortão? = vamos embora, então?
Pópô o pó? = pode pôr o pó? = de café
Pópicauáio? = pode picar o alho?
onquetá? = onde está?
dôdestongo = dor de estômago
issakipómoiá? = isto aqui pode molhar?
mardusfigo = mal do fígado
pôpurbaxo = por por baixo
usvidifora = os vidros de fora
usvididento = os vidros de dentro
usmininxegaro = os meninos chegaram
asmininxegaro = as meninas chegaram
pópegakasmão? = pode pegar com as mãos?
uventátáondi = o avental está aonde?
ugáscabô = o gás acabou
lidialco = litro de alcool
vrido = vidro
bronbil = bombril

Ainda tem...
bassoradinalho = vassoura de nylon
RZ = RG
papel toaila = papel toalha
pranta = planta
barrêoterrero = varrer o quintal
dendocisne = dente do ciso
distraí o denti = extrair o dente
inzame = exame
cunzinha = cozinha

E por ai vai...

Para cuidar melhor da nossa breve existência e deixar uma herança melhor do que tivemos!




40 ITENS PARA UMA VIDA NATURAL

As mudanças mais poderosas e doradouras são as que começam no cotidiano de cada um. Aqui seguem algumas dicas para o exercício da ecologia pessoal. Escolha suas prioridades.

Dicas de Carlos Cardoso Aveline

1- Respirar mais profundamente: A verdade é que o sangue precisa de oxigênio. Respiração profunda amplia a clareza da mente e dá mais saúde física. Faça isto, calmamente, durante alguns minutos por dia. Diante de ar livre e puro, na medida do possível.

2- Dar folga para o estômago: Seu estômago é um dos seus amigos mais importantes. Não se empanturre. Dê descanso ao estômago. Coma para alimentar-se. Não se intoxique.

3- Abrir espaço para a qualidade de vida na rotina diária: Não deixe para depois de amanhã a melhora que pode produzir e estabelece hoje. A qualidade de vida é uma planta que a gente tem que regar todo o dia.

4- Fazer periodicamente uma auto-avaliação: Verificar regularmente, item por item, o grau de coerência que você já atingiu na vivência do seu ideal ecológico, identificando de que modo pode continuar auto-aperfeiçoando-se e avançar cada vez mais.

5- Restringir o consumo de remédios: Tome remédios só quando for de fato necessário. Prefira terapias complementares, como homeopatia, acupuntura, do-in, naturismo. Os laboratórios químicos induzem ao consumo de remédios não só desnecessários, mas prejudiciais.

6- Comer menos carne: Afaste-se, gradualmente, do processo de massacre diário dos animais para o mercado de carne. Há outros motivos. A carne vem com hormônios, conservantes e toxinas que a tornam alimento pouco saudável. Por seu lado, a carne de peixe pode acumular, com a poluição, metais pesados despejados nos rios. Diminua a carne, e se quiser proteínas animais prefira leite, queijo, ovos. Pense em uma alimentação mais vegetariana.

7- Restringir o uso do automóvel: Carro particular causa poluição ambiental e priva o seu organismo do necessário exercício físico. Use-o só quando necessário. Se ele não for indispensável, dê preferência ao ônibus e, em distâncias menores, à bicicleta. Esta última descongestiona o trânsito nas cidades, não polui e faz bem à saúde. Nas distâncias curtas, caminhar é a melhor opção.

8- Trocar o café pelos chás naturais: A ingestão excessiva de café pode causar problemas de comportamento, alterações cardíacas, câncer na bexiga e aumento do colesterol. A cafeína produz insônia e excitação nervosa. O café de cevada pode ser uma alternativa.

9- Adotar uma árvore (ou mais de uma): Além de todas as funções ecológicas conhecidas, ter uma ou mais árvores por perto acalma as pessoas e melhora seu estado de ânimo. No caso de hospitais, pacientes que têm árvores dentro de seu campo visual ficam curados mais rapidamente. Mantenha seu bem-estar interior convivendo mais com árvores. Defenda-as, quando ameaçadas. Cuide delas. Plante mudas. Verá como então se sentirá melhor.

10- Deixar o cigarro completamente: Além de tabaco, o cigarro contém quase 2 mil agentes químicos, na maior parte cancerígenos. Respeite seus próprios pulmões e os dos outros. Para plantio de fumo, florestas nativas são cortadas, pesticidas lançados ao solo, e o impacto ambiental é muito grande. As mesmas terras poderiam em vez disto, estar produzindo alimentos para os pobres. O consumo de cigarro é provocado artificialmente por campanhas de propagandas multinacionais. Economicamente, as doenças geradas pelo cigarro significam grande prejuízo para a sociedade.

11- Preferir alimentos com fibras: Segundo a Organização mundial de Saúde, 80% dos casos de câncer ocorrem por razões ambientais, inclusive o cigarro e a má alimentação. Os alimentos integrais, com fibras, previnem problemas de saúde. Restrinja os alimentos artificiais ou refinados.

12- Uma pausa antes de comer: Antes de iniciar a refeição, pare um instante, acalme sua mente, concentre-se na idéia mais elevada que puder imaginar no momento. Deixe de lado toda a pressa e ansiedade. E então comece a comer com calma e tranqüilidade, para que a digestão possa começar de maneira certa.

13- Economize e recicle papel: Use papel dos dois lados. Quando possível, compre papel reciclado, ou pelo menos não branqueado com cloro, produto extremamente nocivo ao meio ambiente.

14- Restringir as frituras: Se você não resiste a uma fritura de vez em quando, faça com que isto seja apenas uma exceção, e use somente óleos leves, que ajudam a controlar o colesterol. É melhor tentar viver sem frituras.

15- Comer alimentos naturais da estação: Os vegetais produzidos fora da estação exigem uso mais intensivo de pesticidas e substâncias químicas. Prefira as frutas e legumes da época. Lembre-se de lavar bem as verduras para tirar delas os restos de agrotóxicos. A vitamina A e o cálcio presentes em verduras, na cenoura e na maça ajudam a neutralizar o chumbo, cobre e outros metais pesados acumulados em nosso organismo.


16- Fazer exercícios físicos diariamente: Caminhe, ande de bicicleta, faça um pocuo de ioga, jogue vôlei, futebol ou basquete, tênis ou tênis de praia. Exercícios físicos moderados são essenciais para manter a saúde e uma atitude equilibrada diante da vida, evitando as causas do estresse e tensão.

17- Procurar os recicláveis: quando for às compras, priorize os produtos recicláveis, confiáveis, que podem se consertados, reabastecidos, recarregados e usados de novo. Evite produtos que dependem de pilhas e baterias, porque são altamente poluentes.

18- Praticar meditação: considerada por alguns como instrumento para uma ecologia da mente e dos sentimentos, a meditação não é uma prática tão complicada quanto se pensa. Basta sentar-se em silêncio e observar a passagem dos pensamentos pala mente como se fossem nuvens do céu, isto é, sem comprometer-se psicologicamente com eles, até que o seu firmamento mental fique todo, ou quase todo, livre de nuvens. Mesmo que o seu céu não fique inteiramente límpido você notará que as nuvens ficarão mais altas, brancas, agradáveis e claras. Leia, lentamente um bom livro sobre meditação.

19- Usar garrafas de vidro: Evite as garrafas de plástico e as latas, que terão de ser descartadas, enquanto as de vidro são imediatamente recicladas. Esta é uma pequena opção individual, diária, por uma sociedade ecologicamente viável. Um pequeno ato de autodisciplina e respeito pelo meio ambiente.

20- Sebo na margarina: quando é mostrada nas propaganda de televisão, a margarina parece um produto saudável. Na verdade ela é produzida com vários óleos vegetais misturados a gorduras animais como o sebo. Para ficar parecida com a manteiga, a margarina recebe antioxidantes, flavorizantes, corantes, emulsificantes, espessantes, acidulantes e conservantes, todos aditivos químicos de algum modo prejudiciais a saúde. A margarina é um alimento totalmente ilusório.

21- Usar inseticidas caseiros: Nenhum inseticida químico é inofensivo. Se pensa que precisa usá-lo, leia a bula e siga as instruções com cuidado. Mas há também algumas soluções alternativas. Para formigas, coloque algumas gotas de suco de limão na entrada do formigueiro e deixe ali a casaca. Tente também o pó de café, talco, pimenta e cinzas. Para baratas, misture bicarbonato de sódio com açúcar, e coloque em tampinhas de garrafas nos locais freqüentados por elas (sob a geladeira, fogão, em ralos e lixeiras). O açúcar as atrai e o bicarbonato as mata. Para traças, a cânfora é tão eficiente quanto a naftalina e muito menos tóxica. Para aranhas, se forem pequenas e inofensivas, evite mata-las; elas se alimentam de vários insetos desagradáveis. Para pulgas, o maior problema é com os animais de estimação. Lave-os com água morna e sabonete e enxugue-os. Aplique após uma solução caseira eficaz para manter as pulgas a distância: duas colheres de sopa de alecrim fervidas em um litro de água.

22- Restringir o uso de forno micro-ondas: O forno de micro-ondas pode desenvolver aminoácidos tóxicos para o rim e o fígado em alimentos como o queijo, leite, carne e peixe. Ele não dá aos alimentos uma temperatura uniforme capaz de eliminar todas as bactérias.

23- Economizar água: Água é um recurso natural escasso. Não deixe a torneira aberta todo o tempo enquanto escova os dentes. Não fique meia hora no embaixo do chuveiro aberto. Tome providências imediatamente se há um vazamento em sua casa ou prédio.

24- Proteger as crianças dos alimentos perigosos: Mediante um bom diálogo e um trabalho de educação integral, você pode conscientizar seus filhos(e os amigos deles, já que uma criança não vive isolada) sobre os problemas dos excessos de doces e balas, dos refrigerantes, hambúrgueres, cachorros-quentes, e outra armadilhas do chamado mundo moderno. Estes alimentos têm muitas vezes não só açúcar branco, mas corantes, conservantes e outros aditivos prejudiciais a saúde. A satisfação que eles dão dura poucos segundos, mas há conseqüências de longo prazo como fraqueza nos dentes, maiores possibilidades de contrair doenças e gastos com médicos e dentistas.

25- Restringir a televisão: Usada em excesso, a televisão interrompe a vida familiar e destrói, também, a vida intelectual, cultural e social das pessoas. Com seus programas, muitas vezes alienantes, a televisão é um exemplo de poluição mental e deseducação da população em vários níveis, incentivando o consumismo desnecessário. Mas, usada com moderação, pode ser um fator positivo em sua vida. Às vezes há filmes bons. Existem bons noticiários e alguns programas culturais e até ecológicos.

26- Restringir o uso de panelas de alumínio: Procure substituir gradualmente suas panelas de alumínio. Prefira as esmaltadas, de ferro, ou ainda de vidro. O alumínio da panela de despreende quando são cozidos alimentos ácidos, ou quando se raspa o recipiente com força. Há várias doenças associadas ao excesso de alumínio no organismo humano.

27- Transpirar naturalmente: Não exagere com os desodorantes. O suor natural é importante para eliminar as toxinas. Desodorantes supostamente modernos, à base de cloridrato de alumínio, formaldeído e amônia, bloqueiam os poros da pele e fazem mal à saúde. Talcos neutros e polvilho anti-séptico “granado” são inofensivos à pele e necessitam de uso menos freqüente. Para banhar-se e lavar-se prefira sabonetes naturais.

28- Nunca usar amianto: Evite totalmente amianto, seja em telhas, reservatórios de água ou qualquer outro produto. O amianto desprende microfibras que são inaladas na respiração e podem provocar graves doenças respiratórias inclusive irreversíveis. O produto já foi proibido na Alemanha e outros países. Também é nocivo ao meio ambiente e à saúde dos trabalhadores que o produzem.

29- Não exagerar com o computador: Os computadores emitem baixos níveis de radiação que podem causar dor de cabeça e outros sintomas a pessoas que fiquem muitas horas por dia diante deles. O perigo maior é para mulheres grávidas de poucos meses, que podem sofrer aborto. De qualquer modo, evite ficar mais de quatro horas por dia na frente do computador. Faça uma pausa a cada hora de trabalho.

30- Dar folga para o seu bolso: Compre só o necessário. Vivemos em um mundo de falsas necessidades, criadas artificialmente. Saia fora do círculo vicioso de consumo-pelo-consumo, responsável por tanta destruição ambiental, tanta exaltação do egoísmo. Uma atitude mais reservada em relação à compulsividade consumidora pode, literalmente, dar lucro a você.

31- Ser um cidadão atuante: Tenha às mãos os telefones da Secretaria Municipal de Meio ambiente de sua cidade e da entidade ecológica mais próxima. Denuncie qualquer irregularidade da qual venha a saber, dando seu nome e endereço para confirmação da denúncia. Sempre que possível, participe de ações concretas em defesa do meio ambiente. Mantenha contato com os políticos que elegeu e pressione para que eles se posicionem corretamente nas questões ambientais e de qualidade de vida. Converse com os seus familiares sobre a defesa ambiental.

32- Fazer passeios pela natureza: Ninguém pode amar ou defender o que não conhece. Deixe de lado a tensão do trabalho urbano e visite os lugares da natureza. Esvazie-se da pressa e aprenda a perceber a música e harmonia presentes no silêncio da natureza.

33- Evitar bebidas fortes: Bebidas alcoólicas são em geral uma violência contra o organismo humano. Se não puder renunciar totalmente ao uso de álcool, opte por uma cerveja gelada em doses homeopáticas. Evite o pileque como o meio de transcender a sua consciência média da realidade. Se quiser transcender, decida-se pela meditação, leia sobre ioga. É bem melhor do que destruir o sistema nervoso com bebidas alcoólicas.

34- Na praia, evitar excesso de sol: Entre 10h00 e 15h30 há um maior perigo. Os índices de câncer de pele no Brasil já são preocupantes.

35- Repelentes naturais: Evite utilizar repelentes químicos contra insetos como o mosquito e o borrachudo. Para essa finalidade, prefira o óleo de bergamota e outros produtos inofensivos à saúde humana e ao meio ambiente. Que podem ser encontrados em lojas naturais. Colocar tela na casa e usar mosquiteiro também constituem providências sensatas.

36- Ao dirigir, evite altas velocidades: Altas velocidades não são apenas perigosas para você e para os outros, mas prejudicam todo o meio ambiente. Dirigindo a 112Km por hora, por exemplo, você gasta 25% mais combustível do que viajando a 88Km/h. andando mais devagar, você economiza dinheiro e polui menos.
37- Evitar a causa das dores-de-cabeça. De cada dez casos de dor de cabeça, nove são resultados de tensão, inclusive ansiedade, depressão, preocupação e outros problemas emocionais. Tomar comprimidos é uma falsa solução. Beba um chá de camomila. Sente-se calmamente, espinha dorsal ereta, pés firmemente no solo, e imagine a energia que está concentrada na cabeça dissolvendo-se e distribuindo-se calmamente. Relaxe. Revise, examine e elimine um a um os fatores tensionantes de sua vida diária.

38- Evitar o uso de plásticos: Se vai às compras, leve de casa uma sacola. Dispense embalagens desnecessárias.

39- Ser sério, mas não carrancudo: O bom humor e o riso contribuem para manter-nos relaxados e evitar tensões ou doenças. Fale sobre seus problemas com amigos confiáveis. Desabafar com gente amiga é uma maneira de evitar que os problemas ganhem importância exagerada. Quando falamos dos problemas, eles desinflam.

40- Manter contato com o jornal que você lê, a rádio que escuta, a estação de televisão que assiste: Ligue para seus meios de comunicação preferidos e faça sugestões de assuntos que deveriam ser abordados, critique quando errarem, elogie quando acertarem. A influência do consumidor é decisiva para que os meios de comunicação possam melhorar seu conteúdo. Escreva cartas para a coluna do leitor e expresse seus pontos de vista.

Fonte: Dicas de Carlos Cardoso Aveline - repassadas para INTRASEC pela SUDEPE/DIPES/CDP - Programa Saúde Ocupacional

in: http://www.sec.ba.gov.br/saude_ocupacional/texto31.htm