quinta-feira, 5 de junho de 2008

O esporte precoce tem limites?


Olá pessoal, acredito que essa reportagem abaixo pode servir para pensar um pouco e quem sabe discutir sobre o papel que esporte ocupa na vida das crianças, principalmente quando elas são envolvidas em jogatinas. Há inúmeros sites que informam os detalhes dessas lutas em que os adultos pagam mais de R$ 100,00 para assisti-las trocar sopapos ao vivo e para apostar dinheiro.

Assistam e leiam, depois comentem a respeito.
Abraços, Márcio

Início da reportagem: http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2008/04/080421_boxecriancas_np.shtml



Aqui estão dois links de discussão sobre o tema:

http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=23520&channel=45

http://mediacenter.clicrbs.com.br/templates/player.aspx?uf=1&contentID=23451&channel=45

Texto e Vídeo do Fantástico: http://br.youtube.com/watch?v=UmxKmfbNROQ

Muay Thai: incentivo ao esporte ou à violência?

A mania começou na Ásia, tomou conta da Europa e agora está chegando ao Brasil: crianças, algumas de até cinco anos, estão lutando boxe! Mas será que elas podem praticar um esporte tão perigoso? E mais: quais os riscos para a saúde e para a formação desses meninos?

Socos, cotoveladas, joelhadas, chutes em toda parte do corpo. Inclusive na cara. Só não é permitido mesmo mordidas e cabeçadas. Esses são os golpes do Muay Thai, o boxe tailandês, um esporte violento, mas que vem crescendo em vários países do mundo, inclusive no Brasil. E em uma categoria que nem existe oficialmente, mas que podemos chamar de fraldinhas. São crianças de 6 a 12 anos de idade.

“Hoje, o Muay Thai é um esporte milionário. Pessoas ganham bolsas de US$ 1 bilhão no Muay Thai. Então, com isso, cria um sonho das crianças "ah, eu queria ser aquele lutador" e é normal. Como no futebol, não é?”, comenta Artur Mariano, treinador de boxe tailandês.

Rafael tem seis anos. Henrique tem 7 anos e Pacheco e Nicloas têm 8 anos.

Um documentário inglês apresenta os gêmeos Miah e Kian, de 5 anos, os garotos Connor e Sohan, de 9 anos e Thai, de 10 anos. Eles já estão literalmente na luta, em busca desse sonho.

O boxe tailandês virou febre entre a garotada na Europa. Só na Inglaterra, já são mais de 500 academias ensinando a luta para as crianças. Thai Barlow ganhou seis campeonatos nacionais. Ele tem apenas 10 anos e já nocauteou dois adversários da mesma idade. O seu preparo físico é pesado.

“Às vezes eu quero descansar, mas meus pais dizem: ‘tem que treinar mais, aprender mais’", conta Thai.

“Ele vai lutar contra os melhores da Europa, então ele tem que treinar muito”, alega o pai.

No Brasil, nós não temos crianças sendo preparadas para competições como acontece lá fora. Mas nem por isso os treinamentos nas academias deixam de ser intensos.

Nicolas, Pacheco, Rafael e Henrique fazem de duas a três aulas de 50 minutos por semana. Tudo começa com uma pequena corrida e alguns polichinelos para aquecer. Depois vem a simulação de golpes no ar. Sacos de pancada para trabalhar a força, almofadas para melhorar a coordenação e o "sparring" – a luta é pra valer.

“É melhor eles brigarem, ou melhor, brincarem aqui, do que sair na rua brigando também. Eles estão fazendo esporte aqui e tão desolando todas as tensões dentro de um ringue, dentro duma academia”, justifica Emerson Debon, pai de Nicolas.

Mas, com oito anos?

“Com oito anos. Desde pequenos lês são nervosos e já têm ansiedade. Então, acho que é bem saudável isso para ele”, complementa ele.

Os médicos não concordam.

“O boxe é enquadrado pela Academia Americana de Ortopedia e pela Academia Americana de Pediatria como sendo um esporte de colisão, um esporte de contato. E também é um esporte onde existe uma necessidade de preparação física muito grande. Ou seja, as crianças até os 10, 12 anos de idade não têm ainda aptidões físicas e neuro-musculares de praticar tal esporte. A criança quando leva um soco na cabeça, ela pode gerar uma alteração no funcionamento do cérebro. Estudos mostram que o uso do capacete protege os adultos, mas não as crianças”, alerta João Alves Grangeiro Neto, médico ortopedista do Comitê Olímpico Brasileiro.

“Essas crianças podem ter dificuldade no aprendizado, podem ter dificuldade em memorização e podem, sem dúvida alguma, deixar essas crianças pré-disponíveis a uma lesão mais grave”, complementa João Alves.

“Machuca, mas é pouco. A gente tem luva, tem caneleira, tem o capacete de cabeça, tem o protetor bucal. Com isso, eles não se machucam. Não tem como”, defende. “O pai e a mãe dele estão aqui. O Henrique, por exemplo, já voltou para casa machucado alguma vez?”, discorda o mestre Arthur.

Durante o treino, Rafael pára e parece estar chorando. O pai tira o capacete do filho, que está chorando. Minutos depois, a joelhada do Henrique machuca boca do Rafael, que também começa a chorar.

“Com a presença da televisão, eles ficaram excitados, querem fazer bonito. Foi a primeira vez que ele chorou aqui. Nunca tinha visto. Você vê”, justifica mestre Arthur.

A Federação Internacional de Boxe Tailandês só aceita maiores de 14 anos em suas competições. Mas isso não impede que as academias espalhadas pelo mundo criem campeonatos com suas próprias regras.

Na Tailândia por exemplo, as crianças lutam sem os equipamentos de segurança. Até sem capacete. E pior: com apostas em dinheiro.

Já nos Campeonatos Europeus, os equipamentos de segurança são obrigatórios. E em vários campeonatos, socos na cabeça são proibidos.

No Brasil, a competição entre menores de 14 anos é proibida. Mas no Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, crianças abaixo desse limite de idade já se enfrentam nos ringues em eventos onde tudo lembra uma competição. Mas que os organizadores fazem questão de frisar que se trata apenas de uma apresentação.

O clima nas arquibancadas é de competição. E o nervosismo das crianças também. Qual será a sensação para essas crianças quando o momento da apresentação se aproxima?

“Assim, no meu corpo todo, parece um choque, pois tenho medo de perder”, justifica Antônio Pacheco.

Até mesmo o organizador do evento se confunde ao tentar explicar, a diferença entre competição e apresentação.

“Abaixo de 14 anos não tem uma legislação em nível mundial. Porém, aqui no Brasil, estamos fazendo a nível de incentivo. As crianças participam de competições por experiência e ambas conquistam o primeiro lugar”, diz Carlos Camacho, supervisor técnico da Federação Brasileira Muay Thai Tradicional.

“Então já existe no Brasil competição com crianças abaixo de 13 anos?”, pergunta Renata Ceribelli.

“Estamos começando neste primeiro evento aqui no Rio Grande do Sul”.

“Eu achei que fosse só uma apresentação. É uma competição?”, questiona Renata.

“Não, é uma apresentação, uma luta de exibição. Não é uma luta de competição”, tenta explicar o organizador.

“Para você é como se fosse uma competição?”, indaga Renata para uma criança.

“Sim, porque não deixa de ser uma luta”, responde uma criança.

Mas, afinal, que diferença faz para as crianças?

“A aula é uma coisa, a competição, o circo romano é outra. Emocionalmente, você brincar de boxe é uma coisa. Você pode ter conseqüências muito nocivas, pois a criança vai se sentir extremamente pressionada. Isso traduz, na verdade, uma questão do pai, uma frustração que ele não resolveu e está passando para a criança”, alerta Maria Inês Bittencourt, psicóloga da PUC do Rio de Janeiro.

Parece ser o caso da inglesinha Miah. Com apenas 5 anos, ela sempre chora, antes de entrar no ringue. Muitas vezes os pais pressionam e parecem nem perceber.

“Às vezes eu erro e troco os golpes. E o meu pai fala faz direito assim, assim, assim. Se eu não fizer, ele me dá uma tunda”, conta a criança.

O pai interrompe: “Pára de falar isso aí. Todo pai quer ver o quê? O filho ser o melhor, né? Na realidade, o pai sempre quer o filho campeão”.

O Luiz é professor de boxe e o filho, André, tem três anos.

“Eu já estou preparando o meu filho para ser um lutador, já estou familiarizando ele. Mas, ao mesmo tempo, dá um dó no coração. Como lutador é uma coisa, mas meu filho fica um pouquinho difícil. Estou com dois corações”, confessa Luiz Fernando Costa, professor de boxe tailandês.

16 comentários:

Unknown disse...

Situação complicada!
Acho que não só o boxe tailandes mais diverssas lutas se os pais e treinadores incentivarem a agrecividade para ensinar certamente vai acarretar sérios problemas .
Eu não colocaria um filho meu numa luta dessa! Correndo risco frequente de se machucar sériamente!

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...
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Unknown disse...

Esta é uma realidade muito cruel, que não acontece apenas no boxe tailandês ou em lutas, muitos estudos indicam que a especialização esportiva está acontecendo antes do tempo previsto em muitas e diferenciadas modalidade esportivas,antes da crianças ao menos possuir maturidade(habilidade, coordenação,...), necessárias para a pratica esportiva.
No Estado de São Paulo, pesquisas realidade com entidades esportivas,particulares e centros esportivos municipais, de caráter geral(várias modalidade)e especifico(modalidade especifica), apontaram que em geral a especialização esportiva acontece numa média de 1-2 anos antes do período adequado.
Uma realidade preocupante que merece bastante atenção.

Cecília disse...

É lamentavel que esse tipo de situação venha acontecendo com uma frequencia muito grande. Os esportes em geral, principalmente aqueles de prática individual vêm especializando as crianças cada vez mais cedo, com uma carga que seria impossível imaginar ha alguns anos!
O mercado que exige e explora o esporte, investe por todos os lados, e percebeu (infelizmente) que as crianças são um bom "alvo" para os lucros, mas o que ninguém pensa é que estes pequenos que hoje competem como gente grande, dificilmente conseguirão chegar a ser gente grande de verdade dentro do esporte, porque certamente alguma lesão ou até mesmo o estresse por causa da grande pressão, os afastarão desse mundo!

Anônimo disse...

Frente a situações como estas em que o lucro é visado, em que os pais bem como os treinadores possuem um despreparo enorme em relação às atitudes tomadas ao treinamento das crianças e em que ocorre uma especilização precoce que nós, futuros educadores de Educação Física, precisamos ficar atentos às atitudes que iremos tomar defronte a situações como estas, seja para mostrar não só às crianças mas também aos pais que é necessário o respeito às fases de desenvolvimento motor de cada aluno e que a cooperaçao e iniciação esportiva são fundamentais para o desenvolvimento saudável de uma criança.

Unknown disse...

Eu estava conversando com um amigo, ele disse que para ele tudo bem, tudo depende da cultura, nesse aspecto eu concordo, porém o que se vê nessa postagem é uma violência sem tamanho é um monte de adultos frustrados que colocam seus filhos para lutarem contra vontade e recuperar algum orgulho perdido na infância. O esporte deve ser prazeroso e não deve mais ser visto como uma máquina de fazer dinheiro, sentido este que tem cada vez se tornado mais comum nos dias atuais.

Mariela disse...

Infelizmente com especialização precose muitas crianças acabam perdendo o interesse pelo esporte, sem realmente sentir o prazer que o esporte proporciona. Isso ocorre muito com as artes marciais, pois é uma esporte de contato direto onde as crianças estão sujeitas a traumas. Algumas federações já pensaram como poderia minimizar esta situação, no caso do Tae Kwon-Do a Ftemg proibiu o contato físico nas categorias fraldinha, mirim e infantil, deixando as crianças com mais liberdade de movimentos. Mas o que muitas vezes prejudica as crianças são os pais, pois a maioria das vezes os pais poem nos filhos seus sonhos de infância, dai então que gera está cobrança e prejudica o desenvolvimento das crianças.

Guilherme disse...

eu não acho que é incorreto a prática de artes marcias inclusive o muay thai que é uma arte linda, mas violenta, acho apenas que deve haver um acompanhamento melhor da prática por profissionais competentes para que as crianças não fiquem prejudicadas pelo esporte, tendo todo um suporte para se desenvolverem e que futuramente na fase adulta não desenvolvão lesões que comprometerão sua saude

movimentodocorpotransformaçaodamente disse...

Percebi que a responsabilidade da iniciação precoce nos esportes por grande parte é promovida por pais e treinadores que parece não ter uma formação adequada, não tendo o entedimento que as crianças necessitam de lazer e diversão. E que muitas das vezes esse treinamento excessivo prejudica a formação das crianças e ainda não se tornam competidores de alto nível.

Unknown disse...

Esta é uma situação que deve ser analisada com mais rigor, pois aí é difícil saber qual o motivo pelo qual estas crianças se envolveram neste mundo, se foram obrigadas pelos pais ou não, se são crianças de rua que passam necessidade etc. e o pior de tudo é saber que existem pessoas que pagam e apostam para ver estas crinças lutarem, estes sim são, ao meu ver, pessoas estúpidas sem noção do quanto isso é defeituoso para formação do caráter destas crianças e estas ainda estão perdendo seu tempo em treinamentos rigorosos onde deveriam desfrutar da sua infância.O esporte para estas crianças deveria ser algo lúdico, propiciando prazer a estes e não como vem sendo focado.

Anônimo disse...

Acredito que toda prática esportiva oferecida à crianças e adolescentes é permeada por ações adultas, seja dos pais, dos professores, dos técnicos, e todos interferem de alguma forma nas experiências dessas crianças. Uma influência que não diz respeito simplesmente ao comportamento e atitudes na hora da competição, mas também aos que ensinam o esporte à essas crianças. Por conta disso acho que a pedagogia utilizada pelos que ensinam, e geralmente são especialistas em esporte na infância, deixa a desejar, porque eles desconhecem uma interação entre o esporte ensinado à criança, a educação e a complexidade do que está sendo feito. Já li artigos relatando casos de crianças que tiveram sua iniciação esportiva aos 3 anos (me refiro a natação e ginástica) e particularmente acho isso ERRADO, pois na maioria das vezes, essas crianças são forçadas (...e por incrível que pareça, pelos próprios pais...) a se inserir num mundo competitivo demais, fato que certamente, causará prejuízos à essas crianças, atrapalhando no desenvolvimento de um possível talento que a criança possa ter. É isso...

Narinha disse...

Que situação!!!!!
Diria: que "decepcionante" esse tipo de situação que em ocorrendo!!!!
A luta é um esporte individual e que exige contato direto com o outro e portatnto deve ser vista de modo especial pois o que geralmente tem ocorrido é a famosa "especialização precoce do indivíduo" conhecida por muitos. Nesse caso do muay thai, as crianças com maior frequencia com certeza estarão desestimulados ao esporte e quando não, estarão praticando por influencias externas repressoras o que não é bom nem para o praticante e nem para o esporte em si...isso sem contar o mal que faz o treinamento intenso para o preparo das lutas para crianças com seus corpos em formação....Será que vale a pena os pais destas crianças investirem tanto nesses "quase possiveis talentos?"

Marilene disse...

Acho um absurdo o que vem acontecendo co essas crianças,passa a se revoltante essa situação ainda mais para nós profissionais da area de Educação Física.

Anônimo disse...

O esporte pode proporciar muitos beneficios, desde que, seja proposto de uma forma adequada respeitando os limites físicos, pisicológicos e motriz da criança.Os páis muitas vezes não sabe lidar com esta situação ou até mesmo impulciona seu filho na prática do esporte não adequado;assim o papel do professor de Educação física torna-se ecêssial, tendo a oportunidade de mostrar a divercidade da pratica esportiva e qual o melhor metodo de pratica-ló

Luciana Melo

TIAGO disse...

Constrangedor, apropriando-me das palavras de nosso amigo Jaques "o esporte não deve mais ser visto como uma máquina de fazer dinheiro", assim ele perde o significado de saúde e torna aqueles que deveriam praticá-lo, meros expectadores apáticos.