sexta-feira, 30 de maio de 2008

Por quê será que trabalhar em escola não agrada?


Extraídos de: http://www.jornaldaciencia.org.br
JC e-mail 3521, de 29 de Maio de 2008.

83% dos alunos têm professor insatisfeito, afirma a Unesco

Entre 11 países emergentes, apenas docentes uruguaios estão mais insatisfeitos com os salários, segundo pesquisa. O total de estudantes cujos professores trabalham em mais de uma escola chega a 29% no Brasil, o maior entre todos os países analisados

Antônio Gois escreve para a “Folha de SP”:

Os professores brasileiros, com exceção apenas de seus colegas uruguaios, são os mais insatisfeitos com seus salários, segundo um relatório divulgado ontem (28/5) pela Unesco, no comparativo entre 11 países em desenvolvimento. No estudo, 83% dos alunos do ensino primário (equivalente, no caso brasileiro, aos quatro primeiros anos do ensino fundamental) estão em classes cujos docentes se declararam insatisfeitos com os salários.

O relatório também mostra, como já evidenciado em outros estudos da Unesco, que as taxas de repetência no ensino primário no Brasil destoam, e muito, das de outros países. No Brasil, a repetência chega a 19% dos alunos no ensino primário, mais que o dobro da verificada no segundo país com maior percentual, o Peru, com 8,8%.

O estudo da Unesco, intitulado "Um Olhar para o Interior das Escolas Primárias", faz parte do programa WEI (sigla, em inglês, de Indicadores Mundiais de Educação), que monitora a educação em países em desenvolvimento.

Duplo emprego

Sobre o alto grau de insatisfação dos professores brasileiros com seus salários, o representante da Unesco no Brasil, Vincent Defourny, destaca outro dado do relatório, que mostra que o percentual de alunos cujos professores trabalham em mais de uma escola chega a 29% no Brasil, o maior entre todos os países analisados.

Não por acaso, os outros dois países com maiores percentuais nesse quesito são Argentina e Uruguai, onde igualmente o nível de insatisfação com o salário chega a mais de 80%. "Todo mundo que trabalha sabe que uma dupla jornada afeta o desempenho. Isso tem certamente impacto em sala de aula", diz Defourny.

A professora Sandra Aparecida Martins Ferreira, 38, concorda. Ela leciona tanto na rede estadual quanto municipal na zona leste de São Paulo. As nove horas e meia de trabalho diárias lhe rendem ao final do mês R$ 2.200.

"É muito pouco, considerando o desgaste que temos. Os alunos vêm cada vez mais com problemas familiares e nós não conseguimos desenvolver o que desejamos. É frustrante", diz Sandra, que dá aulas para estudantes de 1ª a 4ª séries.

Infra-estrutura

Na maioria das situações analisadas pelo estudo -como a infra-estrutura das escolas ou as condições de oferta do ensino- o Brasil se encontra perto da média dos países analisados -não foram analisados dados de países desenvolvidos. Os brasileiros, por exemplo, não se mostraram tão insatisfeitos em relação ao número de alunos por turma, a participação dos pais de alunos na escola ou a oferta de material didático.

No caso do número de alunos por turma, por exemplo, 34% estudam em classes cujos professores demonstraram algum grau de insatisfação com a questão. A média no ensino primário brasileiro é de 27 crianças por sala de aula. A maior relação foi encontrada na Índia (51 por sala), e a menor, na Malásia (18 por sala).

Investimento

Além de ter professores insatisfeitos com seus salários, o Brasil também não é o país que mais investe no ensino. O gasto médio brasileiro por aluno do ensino primário, de US$ 1.159, é bem superior ao de países que estão no fim da fila, como Peru (US$ 479) ou Índia (US$ 484), mas fica bem abaixo do Chile (US$ 2.120), segundo o relatório da Unesco.

Na comparação dos valores em dólares, a entidade leva em conta o custo de vida em cada um dos 11 países em desenvolvimento incluídos no estudo. Para Vincent Defourny, representante da Unesco no país, a distância do Brasil em relação ao Chile mostra que seria possível investir mais.

Ele destaca que o relatório também mostra que, enquanto no Brasil a média de tempo de um aluno em sala de aula é de 800 horas por ano, no Chile ela chega a 1.200 horas. "Uma educação de melhor qualidade é também uma educação em que o aluno passa mais tempo em sala. Isso certamente tem um custo, mas que se reflete na qualidade", afirma Defourny.

O representante da Unesco afirma ainda que um ponto importante do relatório e comum a todos os países analisados é o alto grau de desigualdade nas condições de acesso à educação. "A escola não está funcionando como um corretor das desigualdades nesses países."

Família

O estudo da Unesco também analisou algumas características familiares que normalmente interferem de forma negativa no desempenho dos estudantes. Entre os países analisados, o Brasil aparece com percentuais acima da média no caso de alunos que vivem em casas onde há menos de 25 livros disponíveis e no de famílias monoparentais, ou seja, em que há só a mãe ou o pai.
(Folha de SP, 29/5)

9 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

chocante...
Realmente as estatística apresentadas pala Unesco não deixam dúvidas, o ensino de nosso país necessita urgentemente de reformulações e investimentos, em âmbito geral, uma vez que, a continualidade deste desestimulo por parte dos professores com relação a seu trabalho nas escolas acabam por agravar constantemente o quadro problemático da educação no Brasil, que já é muito preocupante.
Será que estes dilemas relacionados a educação brasileira terão fim???

Unknown disse...

Tenho exemplo em casa da minha mãe que é supervisora escolar ja faz tempo, ela comenta muito do descaso dos alunos, de problemas familiares,professores desacriditados, enfim , e negocio ta feio!
Se o professor não gostar de dar aula, não abraçar a profissão, ele não vai aguentar!

Anônimo disse...

O que vem acontecendo é um desistresse cada vez maior por livros e métodos comuns de aula... afinal, hoje em dia tudo é moderno, pelo computador, televisão, celular...
A cultura das crianças e adolecentes de hoje é muito diferente do que era por exemplo na epoca dos professores que atuam hoje. Com certeza o precesso de ensino e aprendizagem precisa de progressos modernos e tecnologicos, senão será dificil conseguir a pouco atenção que ainda existe hoje por parte dos alunos.

Cecília, Delaine, Juliana, Naylah e Renato.

Unknown disse...

A situação da educação no Brasil está deixando muito a desejar, por que mesmo investindo relativamente bastante nessa área mais que alguns países, segundo o estudo, o Brasil tem uma dimensão continental e necessita de investimentos muito maiores e de qualidade nessa área. Quanto aos livros em casa, "se me permitem a provocação", não acredito que livros indiquem o grau de estudo de uma família, hoje em dia os livros têm sido cada vez mais deixados de lado, sendo substituídos pela internet, por exemplo, há muito mais informação acessível nessa rede do que em muitas bibliotecas disponíveis por aí, e num grau de contemporaneidade e atualização inenarrável.

Anônimo disse...

Realmente os dados são preocupantes, pra não dizer assustadores. É fato confirmado que trabalhar em escola não agrada porque faltam investimentos, estrutura adequada, interesse do aluno e por mais que os professores se dediquem acho que falta um pouco de comprometimento por parte deles também... Só que também existem coisas boas nisso tudo. Se focarmos nosso pensamento no que há de errado, acredito que a situação pode piorar e muito. Particularmente, penso que um dos grandes desafios do magistério, especialmente no começo da vida acadêmica do aluno, é fazê-lo entender a necessidade de aprender e SOMENTE O PROFESSOR QUE APRENDE BEM E CONTINUAMENTE PODE FAZER O ALUNO APRENDER. Para mim, não existe mestre melhor que o exemplo, então temos o dever de reconhecer os problemas, as falhas e lutar pra melhorar, mais NUNCA entregar os pontos, acreditando que tudo está perdido e que estamos fadados ao fracasso. Isso seria comodismo demais...

Anônimo disse...

Nossa!!! Acabei de ler uma postagem que tem nesse blog falando do desinteresse de muitos pela leitura ESPONTANEA e eu disse que a raíz do problema estaria na formação ou (repetindo) na pseudoformação que está sendo dada na maioria das escolas, e também comentei que não compreendo todos os mecanismos que estão envoltos nesse processo. Agora entendo um pedaço dele. É a mais pura verdade, eu não conheço um professor que tenha somente um trabalho, geralmente eles dão aulas em duas, três, quatro escolas no mínimo para sobreviver da profissão. Lembro-me que na escola alguns professores davam aulas de uma forma tão apática que acabava transmitindo essa apatia aos alunos. No final da aula o resultado era: alunos prejudicados e professores a um passo de explodir.

TIAGO disse...

A situação da educação está cada vez mais complicada, como já foi dito qualquer comparação entre Brasil e outros países deve levar em conta o tamanho continental desse país, sem contar abrangendo essa postagem para a educação física podemos observar que não há investimento nenhum nessa área visto que as escolas não têm material e condições mínimas de trabalho para esses profissionais.

Juliana Vieira disse...

Como o Batata, eu também tenho um exemplo dentro de casa. Aliás, vários: minha mãe, minhas tias, todas eram professoras. Antigamente, qdo elas se formaram ser professora era visto como status e todas as mulheres estudavam para tal ramo. Eu, cresci com minha mãe se dedicando ao máximo para a escola, acordando 5 da madrugada para ir dar aula em comunidades e lembro mto bem de passar os finais de semana ajudando-a: ela rodava as folhas no mimeógrafo e eu as colocava pra secar. Era a única forma que eu encontrava de ficar mais perto dela pois o trabalho lhe tomava bastante tempo. Lembro-me também que pouco a via, pois para ganhar um pouco melhor, ela trabalhava de manhã e à noite, eu estudava à tarde.Até que ela deixou um cargo para ficar mais tempo comigo.
Uma outra lembrança é que ela ficava mto chateada qdo mães de alunos ia a ela reclamar que eles estávam mto mal educados. Poxa, a educação deveria vim de casa,não?
Com base no que vivi, me amedronta mto essa questão de ser professora, acho uma responsabilidade mto grande e um reconhecimento mto pequeno.
Sempre falei que jamais iria dar aula, (e hoje faço licenciatura, hehe). Pra mim o que não me agrada trabalhar em escola é que sempre me vem a figura do que presenciei e até hoje posso notar na faculdade: alunos que não dão valor e não respeitam o professor, pais que "jogam pra cima" do professor a responsabilidade de dar educação, pouca remuneração, precárias condições de trabalho e, sobretudo, a não valorização de uma figura tão importante.